o corpo está no farol, perdido, dentro do oceano.
Uma pedra imensa em direção às águas, carrega os cabelos que crescem.
Eu os corto.
A mãe primeira, a que me salvou do mar, já não está aqui.
A que agora está em silêncio, não olha mais para as ondas.
A primeira mãe me levou aos livros. Pois era sua forma de sumir.
A poetisa, é minha segunda mãe.
Tem os cabelos dourados, como a primeira.
Brilhando como a luz noturna.
Eu os corto,
De minhas mãos só saem dores.
A segunda mãe, mostrou-me suas palavras.
De suas mãos, eu já vi rosas, poesias marítimas, e alguma lágrima de sal.
Chegam à praia e voltam,
ao profundo, um ventre de mar.
Desejo a morte porque nunca pude
jogar-me de um farol.
O medo é para quem não conhece.
O soturno espaço das ondas.
O contato entre o farol e o barco - o sinal luminoso.
As vagas - espelhos que refletem teu amigo, aquele esqueleto interno.
A mãe segunda ensina-me a separar palavras.
Cercar-me do farol e suas sombras.
Águas ensanguentadas, luas estranguladas.
Sondar a melancolia com ternura.
O fantasma ronda as pedras
sobe as escadas.
Conservo-o sagrado.
Uma chama interna.
Preservo a solidão dentro de mim.
Fecho-a junto à lâmpada do farol.
Cerco de velas, flores e cinzas, o sagrado destino das poetas que me fizeram mulher e escritora.
Ellen Augusta
Este poema é dedicado a Maria Helena Sleutjes