E depois, as ruas se encheram de água, e os carros passaram molhando a todos quantos puderam.
Estava numa rótula em que era impossível me desvencilhar dos jatos de água de todos os carros.
Todos os veículos correndo, apenas uma mulher reduziu a velocidade, ao me ver toda 'molhadinha'.
Minhas coisas, uns rascunhos de trabalho que até então estavam secos, se reduziram a nada.
Meu celular, que vale menos de dez reais e que nem créditos tem, nem se molhou.
Enquanto eu me molhava, cantava uma música que tocava em meu mp3.
Escrevo isso, apenas por ironia. Pois estou me lixando para motoristas. Estou pouco me importando para esses bundões, cujo único momento de prazer consiste em dar uma molhadinha em alguém, em dia de chuva.
Esses otários presos a carrões grandes demais para seus corpos pequenos e suas mentes estreitas.
Juro que sinto pena quando um carro passa, molha uma pessoa e ainda buzina.
Sinto asco, quando um motorista cruza o sinal verde, violando o direito dos outros, de quem tem a vez de passar.
Carro? Só se for como Maude fazia, pegava emprestado e devolvia, no filme Harold and Maude, mas aí é pedir demais. ;) |
E quando um idiota cruza o sinal verde, nunca perco a oportunidade de gritar bem alto, fazer um humilde escândalo. Os outros pedestres, porque foram ensinados a abaixarem a cabeça, olham para mim, em vez de fazerem o mesmo.
O resignado, sempre acha que o outro, o que tem coragem de falar, é o agressivo. E silencia diante da verdadeira agressividade. É portanto um completo covarde, porque compactua. Silencia, quando deveria falar. E repete sempre os mesmos preconceitos, quando deveria calar a boca.
Filme Harold and Maude (Ensina-me a Viver) |
Eu, não tenho carro, não tenho bicicleta. E não pretendo ter nada disso. Sou pedestre por convicção.
Escolhi um estilo de vida frugal, para não ter que depender de parafernálias, estereótipos, impostos, sistemas. Mas sei que estou dentro de tudo isso. Não nasci ontem.
E fico puta quando um pedestre fica plantado do outro lado da rua e não aperta o BOTÃO para fechar o sinal de passagem. Isso é coisa de brasileiro terceiromundista que não aprendeu a ser solidário e respeitar as regras de trânsito.
Essa cidade, Porto Alegre, tem um carro para cada dois moradores. Eles andam pelas ruas, cometendo torpezas, como se não soubessem dirigir.
Os cus-sentados, como chamou dois pensadores (Pascal Bruckner e Alain Finkielkraut) resgatados por Ezio Flavio Bazzo em seu livro Mendigos - Párias ou Heróis da Cultura, criam calos nas nádegas. Andam de carro o dia inteiro, saem dali para a frente da TV ou o outro apetrecho da vez. Estão sempre com a bunda sentada em algum lugar.
Eu prefiro andar a pé.
Quando eu digitei a palavra carro no meu site de busca, que não é do Brasil, pois não sou louca de confiar somente nos noticiários e sites do país, o que mais aparecia eram anúncios de venda desse "bem" de consumo. Esse é o ''sonho'' de consumo de qualquer brasileiro, que sonha em se meter dentro dessa lancha e se trancar a porta. Depois sair por aí buzinando e se estressando com todo o mundo.
Filme Harold and Maude (Ensina-me a Viver) |