sábado, 15 de abril de 2017

estar sozinha x ser sozinha

Nestes últimos meses, em que enfrentei pela primeira vez a solidão da minha própria casa, mergulhei em uma faculdade nova, na verdade sobre uma vocação que eu sempre tive, eu percebi que nada é fácil e eu estou sozinha.

Por minhas próprias escolhas e também pelas escolhas do momento em que vivemos (no país), estou sem dinheiro, e isso também torna mais difícil até a convivência com outras pessoas.
Sabe aquela coisa: você precisa se arrumar para ser atraente aos demais, ir a restaurantes, bares, etc... e no momento não é possível.

Antes de me separar, eu imaginava que ao tomar essa decisão, enfrentaria muito machismo, mas eu achava que estava preparada para isso. Porém não. Nunca estamos preparadas para as atitudes machistas das outras mulheres, nunca estamos preparadas para ver as amizades se distanciando, as fofocas, não há como se preparar para isso.

Achei que a solidão que eu sinto fosse culpa do meu relacionamento amoroso recente, achei também que fosse culpa dos meus amigos (sim, a maioria some nos momentos de dificuldade ou sequer estão presentes na minha vida). Eu tenho uma amiga para conversar todos os dias, acho que mais ela me ouve do que o contrário...

Achei também que tudo fosse culpa das redes sociais, afinal é por causa delas que rolam as brigas, os ciúmes e as inseguranças. Sabe o que é você buscar o nome de alguém, e ver que a pessoa ou te bloqueou, ou recusa teu convite de amizade? Isso pode ser algo idiota ou sentimental para quem tem amigos de verdade, de anos, que é só chamar e eles estão ali para qualquer parada, mas para mim dói.
Também cansei de ver gente falando apenas de si mesmas, de como se amam, de como sua vida é tranquila e feliz. Eu sei, deve ser verdade, pois já fiz exatamente a mesma coisa. E hoje, me sinto horrível pois não tenho nada para mostrar.

Eu não tenho um ativismo para mostrar, pois praticamente fui forçada a sair dele.
Família é uma palavra que quando escrevo ou pronuncio me dá vontade de chorar. Pois sinto falta dos meus pais, e o que restou me deixa tão triste a ponto de querer sair dessa vida, acabar com 'tudo'.
Eu não tenho muita coisa a dizer sobre minha vida pessoal, sem me expor de forma que não me sentiria bem nem faria outras pessoas felizes.

Eu poderia dizer algo sobre meu recomeço de vida acadêmica, minha segunda faculdade e esta sim me causa mais orgulho do que a primeira, sobre como tudo o que os professores falam me toca profundamente, pois dizem respeito ao meu sonho, à minha vocação. Quase todos os livros que eles citam eu já li, ou pelo menos conheço e pretendo ler. Apenas as aulas de Espanhol me surpreendem, pois realmente estou FALANDO o idioma que escolhi, que conheço, mas que a vergonha me impedia de proferir em voz alta.

Mas não sei se isso é algo a ser dito. Ando pensando muito antes de publicar coisas minhas.
Um dos motivos é que não sei se elas importam tanto assim. Outro dos motivos é que realmente me sinto sozinha. Mais do que antes, mais do que nunca.

Não acho triste chegar na minha casa e perceber que moro só. O estranho é saber que tão poucas pessoas a visitam, e que nas próximas semanas ou quem sabe meses, não virá ninguém aqui.

E, como cansa ir atrás, como cansa só você ligar, só você querer saber, eu faço isso muitas vezes não só pelo sentimento que nutri pela pessoa, mas para não ter a consciência pesada, quando de fato chegar o dia em que não terei mais contato com aquela pessoa, nunca mais. Penso que pelo menos a minha parte eu fiz. Disse o que precisava ser dito, falei que sentia saudade. Pois prometi a mim mesma sempre dizer ao outro o que sinto e fazer de tudo para manter esse sentimento.

Para quem não conhece esse dia, o Nunca Mais existe, e a partir desse instante, não há mais o que dizer, nem ninguém lá (ou aqui) para ouvir.

É estranha e um pouco triste, minha nova cama de casal, eu durmo sozinha nela e a pessoa que estava ao meu lado, no dia que as coisas chegaram, não está mais.

Sabe, sempre dormi em cama de solteiro e a única vez que dormi nesse tipo de cama foi quando casei. Então, mesmo que eu tenha escolhido morar sozinha e essa minha escolha é para sempre, ainda sinto que uma cama muito grande é grande demais para mim.

Então, sobre o que escreverei? Elegi este assunto, que é melancólico e ninguém quer falar. Esse tema que é o que vivo diariamente. Estou sozinha, me sinto assim, e sei que isso aconteceu por escolhas que fiz, não culpo mais nada ou ninguém, mas sinceramente, o passado não me interessa mais.

Não sinto a menor saudade, acho que é mesmo por isso que me sinto só, antes ao menos eu cultivava lembranças, agora sequer me animo a buscá-las. Estão tão longe de mim, tão equivocadas na névoa da memória, que nem mesmo considero-as verdadeiras.
Mais são contos, mais são a minha versão de tudo o que me aconteceu.

Então, o que ando fazendo é esperar o nascer da lua, todos os dias, lá pelas 19:30 ou 20:00, faço um chimarrão e fico na janela esperando aquele espetáculo nascer. Ela está amarelada e gigante, e nasce atrás das árvores do cemitério, foi por isso que escolhi esta casa. Foi o prazer gótico de morar perto dos mortos que influenciou minha decisão.

Depois pego alguns livros, mais tarde, deito na cama, que é alta e dali fico observando minha janela e a vista linda que há nela.
Existem árvores que estão perdendo todas as suas flores. E tenho acompanhado desde o comecinho, o perfume das flores e agora a secura dos ramos nus.
Tenho alguns vizinhos que ficam nas sacadas ou janelas dos prédios em frente.

E enquanto observo meus vizinhos, a natureza, ou a mim mesma, fico pensando que nunca em minha vida me senti assim: completamente sozinha. Nunca aconteceu, eu sempre tinha alguém. Primeiro meus pais, depois amigos de colégio, amigos de faculdade, alguns namorados, depois marido e amigos de marido que hoje nem falam comigo, depois colegas de apto e até mesmo meu celular, agora deligo-o às vezes, não tenho usado o facebook como antes e acontece que quando vc some, ninguém se importa mais.

Agora é apenas eu e minha casa.

O mais incrível é que eu sabia que isso ia acontecer. E, embora tem dias que fico completamente mal, como ontem, hoje talvez, algumas vezes penso que isso é necessário e que assim mesmo eu percebo como é o mundo para comigo, e como eu sou para o mundo. Percebo que o que acontece comigo não é regra, tampouco é exceção, simplesmente acontece com algumas pessoas.

Daqui a alguns dias espero escrever novamente, para dizer que tudo isso passou, que não era bem assim, que é apenas uma percepção da realidade que eu tenho.
Mas não quero me culpar por tudo, cansei disso também!



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