Eu nasci naturalmente magra e com o cabelo liso.
Quando era criança, tinha aquele cabelo de tigelinha, como as crianças orientais. Nenhum enfeite parava na cabeça, escorria pelos meus fios de cabelos.
E, para o espanto de muita gente, que não se coloca no lugar do outro, sim, sofri muito por ser assim.
Eu queria ter o cabelo encaracolado, e não queria ser magra. Não achava bonito, pois eu era assim e via que outras meninas eram diferentes. Queria ser como uma colega que tinha corpão e cabelão todo crespo. E entrei na adolescência usando roupas largas pois tinha vergonha do meu corpo.
Esses dias revi uma foto antiga onde eu usava um camisetão e pensei: ‘que pena, eu escondia meu corpo. Se eu soubesse o que sei hoje sobre ele, jamais esconderia’.
Esses dias revi uma foto antiga onde eu usava um camisetão e pensei: ‘que pena, eu escondia meu corpo. Se eu soubesse o que sei hoje sobre ele, jamais esconderia’.
Foi com algum custo e também através dos elogios que recebi de quem gostava de mim, que fui desencanando do meu corpo e aceitando: sou assim e não tem nada de mais. Eu comecei a pensar que, se alguém gostava de mim mesmo com as pernas finas, com meus defeitos também, talvez não fosse tão ruim assim ser magra.
Foi o amor, o elogio, o afeto e sobretudo a amizade, que me fizeram mudar minha opinião sobre mim mesma.
E o que acontece agora com o feminismo de Facebook? Parece que é preciso desmerecer os atributos físicos de outras mulheres para fortalecer certos estereótipos que são alvo de preconceito.
Sinceramente, não vou aceitar isso. Não preciso desmerecer ninguém. Quem é magra, porque nasceu magra, portanto tem vantagens em nossa sociedade de consumo e objetificação, não necessariamente tem a culpa por isso. Quem é magra por que quer ser, por que malha e tem corpão de modelo, faz isso por diversas razões, suas razões, e não temos o direito de desmotivá-la.
Afinal, estamos em 2017 e mulher faz o que quer, meu bem. E portanto, você pode continuar fazendo esse tipo de campanha depreciativa, sim. Mas o que ganha com isso é nada. Não conquistamos nada, retrocedemos todos juntos. Para ser feminista, temos que admirar as mulheres. Nós temos muitos defeitos que mais são na esfera do comportamento, precisamos falar sobre eles também, mas sem ofender ninguém.
Ainda somos vítimas do auto desprezo: o desprezo a si mesma e o desprezo ao próprio gênero.
As outras mulheres diferentes de nós, todas elas são seres humanos. Se queremos nos autoafirmar, que seja através da beleza que vemos em nós e nas outras mulheres. Para mostrar algo bonito, não precisamos exemplificar mostrando o que consideramos ‘feio’ até por que gosto é gosto, afinal.
Aprenda: podemos nos amar sem deixar de admirar as outras... |
Eu não me relaciono com determinados tipos de caras. Não faço isso porque não quero. O meu não querer é tão forte como meu querer. Se não quero algo, simplesmente é não. Ninguém vai decidir sobre o tipo de homem (ou mulher) que irá atrair o meu desejo, em outras palavras eu faço o que eu quiser!
É triste ver feministas escrevendo sobre o cabelo liso das outras mulheres, como se fosse algo ruim, apenas com o objetivo de elevar o que parece ser (pois não tenho certeza se é) o contrário de liso – o crespo.
Vejo como insegurança pura, mulheres desprezarem as magras apenas para poder elevar o orgulho de ser gorda. Já escrevi sobre isso aqui no blog e considero que quem faz isso de maneira ostensiva nas redes sociais, é uma pessoa insegura, que precisa se comparar com as outras.
Devemos elogiar as mulheres, quando vemos algo bonito nelas e não inferiorizar se, por acaso, não achamos ela bonita.
Se você tem orgulho de ser o que é, fale isso e principalmente seja o que fala, mas sem inferiorizar os outros.
Se você tem orgulho de ser o que é, fale isso e principalmente seja o que fala, mas sem inferiorizar os outros.
Pois ao inferiozar as mulheres diferentes, apenas estamos repetindo o padrão que queremos combater.
Não é legal trocar um padrão de beleza por outro, isso é apenas repetir o que faz o patriarcado.
A riqueza consiste em que tudo seja ou não padrão, conforme a vontade ou momento de cada um.
A riqueza consiste em que tudo seja ou não padrão, conforme a vontade ou momento de cada um.