sábado, 30 de julho de 2016

A rua

Era um encontro ao acaso, os fantasmas lá fora, as coisas sempre nebulosas. Como é difícil lidar com a clareza, aí vamos para as sombras. Tão mais fácil é sonhar, quando me escondo do Sol.
Nada se compara à essa terrível timidez. Me deixa ora pálida, morta, outras vezes vermelha, como algo queimando no rosto. Eu não consigo mentir, fingir que não me importo.
É impossível formular uma palavra, o medo de que ela saia 'errada' e leve para longe, toda a possibilidade. Eu me concentro na beleza das coisas, até chego a amar a vida novamente, durante um segundo, a pureza de um instante me faz esquecer, de toda a tristeza anterior.
A rua se mostrava iluminada. Era final de tarde, havia tantas árvores e um brilho dourado por onde se passava. Eu só queria ir pra casa, me atormentava o medo, a insegurança, essa merda chamada vontade. Esses sentimentos, que ao sol de um final de dia ficam mais bonitos, nem parecem o que são.
Ontem, eu senti um certo orgulho de estar viva. Geralmente eu anseio pela morte, como uma forma de alívio. Geralmente a vida para mim não tem sentido.
E, dessa vez não é licença poética, eu já quis morrer tantas vezes quanto são os dias.
Mas, ontem, ali naquela praça, com aquelas árvores verde-brilhantes e pessoas andando para todos os lados... eu curti estar onde estava. Ali. E percebi que meu coração é vazio, das coisas banais esperadas por todos, mas é repleto, de coisas que nem mesmo sei, e me surpreende, por vezes.

Será que o amor que conheci, se transformou? Será que esse sentimento adentrou-se aqui dentro e me tornou isso? Outra coisa, outros sentimentos, mas todos parte desse, tão profundo e esperado?

Minha mãe

Faz alguns dias que sonho com minha mãe. Faz alguns dias que choro quando ouço RR. Sentir saudade de quem já partiu dessa vida estúpida é quase a mesma coisa que se torturar, não há corte mais profundo, nem mais infeliz, pois é inútil.
Só há uma sensação chamada ausência, As flores secas, a casa fechada, minha mãe completamente cinza, a cor dos fantasmas quando, por fim, estão mortos.
E essa presença soturna a me dizer o que devo carregar. Mas, por quê devo obedecer? Por que passar a vida a levar pesos, mágoas, formas de tapar grandes buracos na alma?

Não, mãe, eu desobedeço. Não levarei nada, partirei com a alma vazia, nada mais restou.


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