Esses dias uma mulher passou por mim usando uma camiseta com dizeres do nível: Pena de morte já!
Da imagem de uma mulher classe média, ostentando uma camiseta agressiva, num país terceiro mundo, fragilizado nas questões básicas de respeito ao ser humano, me vem a conclusão de que: se esta mesma criatura um dia for presa por engano, eu torço para que não exista, ainda, pena de morte aqui no Brasil.
Aqui, onde a burocracia pode muito bem trocar os documentos e quantos enganos mantém pessoas presas apenas por nomes idênticos, prazos e outras anomalias, onde as leis não são sempre exatamente cumpridas, onde a corrupção está entranhada em cada gene e em cada canto, e aqui mesmo, onde, as pessoas ainda não sabem o significado da palavra Direitos Humanos, vestir essa camiseta, que ato bárbaro heim?
O sujeito, quanto mais medíocre, mais repete aquela frase asquerosa, "direitos humanos é para o ladrão", mas ele não se dá conta de que essa frase é de um repeteco nojento e sem sentido, e ele nunca pesquisou para ver de onde vem tal 'oração' gramatical, e quais foram os 'sujeitos' que o manipularam para que ele a fique repetindo, como um idiota.
Truman Capote foi o inventor do jornalismo literário, quando criou seu livro A sangue frio. Baseado em fatos reais, em uma pesquisa que durou mais de seis anos, o livro conta o assassinato de uma família inteira, lá pelo ano de 1959. Se fosse só isso, nem me daria o trabalho em escrever. Eu leio muitos livros sobre tais temas. Só escrevo sobre o que me atrai de um modo especial.
O livro questiona o tempo inteiro. Por que aquelas pessoas estão lá, em cada uma das suas posições.
Ele desnuda o cinismo da pena de morte.
Sim, porque uma sociedade que é contra o assassinato, mas que pretende pagar um crime com a morte, é uma sociedade cínica e perversa. Cultua a violência, se alimenta dela e não sabe o que fazer com seus impulsos sanguinários.
Uma sociedade que forma crianças de maneira torpe, violando seus direitos, jogando-as no mundo do crime, depois espera que todas sejam 'homens de bem', é cínica.
A lógica do fingimento, de que tudo está organizado. Basta jogar o feio para longe. Enjaular, vigiar e punir. Corromper e reprimir. Violência paga com violência. Ingerir sangue para vomitar sangue.
Sim, e se você entendeu, estou falando também da alimentação baseada na morte.
Cada vez que termino de ler um livro, passo na rua e vejo uma mulher com uma camiseta ridícula como a que vi, estampando e incitando a violência, penso que todo o pensamento ignorante vem da falta de leitura.
Exigir a pena de morte, quando ainda nem se resolveu o problema da corrupção e da preguiça no guichê do serviço público mais elementar é uma estupidez.
Chespirito (Roberto Gomez Bolaños) em capítulos de Chapolin, Chaves e outros personagens de sua carreira, especialmente em um episódio chamado A forca ( Chapolin Colorado: A forca - La horca, de 1989), sempre deixou claro que um ser humano sempre terá condições de se regenerar.
Era uma crítica social, vinda de quem vive em uma sociedade violenta, a mexicana.
Para quem quiser ler essa obra, pode encontrá-la aqui:
Livro A Sangue Frio