Sempre vejo em meus sonhos, a casa da minha mãe, dessa vez sem ruínas, pintada de branco, com as janelas marrons, e uma névoa silenciando o ambiente.
Eu fazendo promessas de visitá-la mais vezes, dormir naquela casa. Um lugar que só existe hoje em minha mente.
E lá, no sonho, ela estava tão viva, tão minha, tão profundamente real. Sentia imenso desejo de ficar ali com ela, só para conversar.
Suas coisas, seus pertences, quase nada existe mais. Seu corpo se foi morto, frio e roxo como todos os cadáveres... Ela deixou esse mundo, mas não deixa meus pensamentos. Todos os dias nesta casa, eu a encontro. A casa branca, as rosas no jardim, as roupas que eram dela, tudo o que foi de minha mãe.
Naquela casa, que hoje desaba sobre minha alma, há a memória do meu pai, há a trajetória do meu irmão. Eu também estou lá, de certa forma, naquele quarto solitário, naquela solidão que conheço tão bem, mas que hoje dói bem mais.
A morte corta tudo, nos tira tudo, só tenho algumas fotos, algumas roupas, um espelho, um perfume, e a lembrança da vida e da morte no seu corpo, que um dia me criou.
Eu nasci, daquela que hoje é simplesmente um nome em um túmulo. Eu era parte dela, e hoje carrego suas características dentro de mim. Minha mãe: agora me acho parecida contigo, na doçura e na teimosia, na tristeza, na desesperança, na alegria de viver, no cuidado com o outro.
Eu me abandonei algumas vezes, como você fez certa vez, eu desisti de algumas coisas, como você também desistiu, hoje me reflexo em seu olhar, pois sei tanto o que você passou. Eu luto todos os dias para orgulhar-te, eu escrevo estas linhas, para que possas ler... aí em algum lugar onde estejas.
Mãe, se leres isso, estou no melhor momento de minha vida. Estou percebendo as coisas que são realmente minhas, as que devo deixar para trás, e o que eu penso realmente, que não é influência de outros.
Só o que não muda são os sonhos, em que vou te visitar, aquela casa perturbadora, aquela saudade do que nunca mais será.