quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Por que Fernanda Torres tem que pedir perdão?

Independente de concordar ou não com o texto da Fernanda Torres, que você pode ler aqui, ela não tem que pedir desculpas.
Protesto contra a Violência em que participei com a admirável feminista Vera Daisy
“perdão por ter abordado o assunto a partir da minha experiência pessoal que, de certo, é de exceção”
Todas nós falamos a partir de nossa experiencia pessoal. Um texto isento de vivências é artigo científico e mesmo estes, hoje, já contam com uma certa flexibilidade no uso de termos pessoais. Fernanda é colunista, escreve crônicas, escreve o que pensa.

O artigo em questão, chamado Mulher, considerei fraco, um tanto machista, talvez equivocado em alguns pontos. Me pareceu que ela apenas se expressou mal em algumas questões. Mas concordei com outras. Uma delas, por exemplo, é que apoio a campanha contra o assédio mas tenho também minhas críticas e penso um pouco como ela: ser desejada também pode ser bom.
Há diferenças entre tipos de cantadas, há assédio, há abuso e há quem goste de elogiar e ser elogiada, numa boa.
Eu posso mandar um cara tomar no cú quando me assedia (acabei de fazer isso hoje), e também posso sorrir, se eu quiser e isso também já fiz. Mas o movimento contra o assédio quer a liberdade das mulheres na rua. Não temos que ser objeto, nem ter medo de sair à rua. O ambiente público também é nosso.

Dá para pensar dessa maneira sim, sem ser contra a campanha.

Mas por que ela tem que se desculpar?
No seu texto de desculpas, chamado Mea Culpa, ela escreve:
“as críticas procedem, quando dizem que eu escrevi do ponto de vista de uma mulher branca de classe média. É o que sou.” 
Essa tentativa de barrar as pessoas de emitirem suas opiniões baseada na cor da pele ou condição é simplesmente censura.
E notem que a atriz sequer tocou em questões raciais. Apenas descreveu como era sua empregada de infância, parte de sua experiência como mulher.
Até homem tem esse tipo de discurso quando afirma que eles não podem falar sobre feminismo. Mas aí quando um homem fala isso e outras regras sobre as mulheres que se inventou nas redes sociais - e que só funcionam lá dentro - nenhuma feminista manda ele calar a boca.
Se perde muito por não ouvir a ponderação de alguém, apenas por que não é do mesmo gênero que o seu, se essa opinião for relevante.
Ok, mas ela é uma mulher. E mesmo sendo mulher, seu direito de falar está restrito por causa de seu corpo? Qual será a próxima condição que teremos que vencer?
Esse tipo de 'cale-se' é uma tendência irritante nos meios interseccionistas, que misturam ideias e querem impor seu modo de pensar a todos, censurando quem é diferente.
O feminismo em particular sofre de um problema: não aceita ser criticado. Há sérias questões a serem repensadas e as mulheres deveriam ser as primeiras a fazê-las. Criticar não significa ser anti feminista ou ser contra o feminismo.

Essa conversa de ser contra o feminismo é apenas um discurso aprendido que nos coloca contra nossa própria natureza. Devemos lutar e marcar presença em todos os lugares.

Num mundo machista, toda mulher deveria ser feminista.

E, sendo feminista, não guardar o machismo dentro de si.
Mas o feminismo precisa se renovar.

Os protestos das alunas contra a proibição de usar short no Colégio Anchieta, que você pode ler aqui, é a prova de que o feminismo vem sendo renovado, mas ainda falta mais.
Eu gostaria de ter alunas como estas. Sempre abordei o feminismo em sala de aula, coisa rara, que deveria ser estimulado pelas feministas (e por professores e professoras) em todas as matérias escolares, para meninos e meninas, ressalto.

Todos tem o direito de se manifestar. E uma mulher pode e deve falar, independente do seu biotipo ou classe.
Até quando o tipo físico de alguém vai ser impedimento para a liberdade de expressão?


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