O bolsa família é na verdade uma obrigação. Já que nosso dinheiro todo vai para o país, por que não retornar um pouco para quem precisa? O que eles ganham no Bolsa, eu gasto no super em uma tarde. Acho válido dar uma chance para quem precisa. Pois negligenciar isso, significa um país miserável em todos os sentidos, não só financeiramente.
Quem reclama do bolsa família, na minha opinião, é mais miserável do que quem não tem condições de se sustentar.
Parabéns ao único governo (Lula e Dilma) que fizeram o básico, que é tornar o Brasil um lugar decente.
O artigo abaixo é do site Sul21
Socióloga analisa impactos do Bolsa Família sobre as mulheres
Igor NatuschAtualmente atendendo 12,5 milhões de famílias, o Bolsa Família ainda é alvo de críticas de vários setores, que vêem no programa um caráter assistencialista e que não prepara os beneficiados para a busca de modos próprios de sustento. Um estudo de Walquíria Domingues Leão Rego, professora do programa de pós-graduação em Sociologia da Unicamp, vai contra essa visão. Segundo a pesquisa, que já dura cinco anos, o dinheiro do Bolsa Família não apenas melhora a vida das famílias, como muda a percepção dessas pessoas sobre a sua própria vida, fator desencadeado pelo controle das mulheres sobre dinheiro do programa.
Walquíria Leão Rego fez a pesquisa por conta própria, sem apoio financeiro da Unicamp ou do governo federal. Financiou as viagens do próprio bolso, agendando as excursões em seus períodos de férias. A seu lado em parte da pesquisa, esteve o filósofo italiano Alessandro Pinzani, que leciona na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ainda não está definida a editora que publicará o trabalho, o primeiro a abordar de forma acadêmica os impactos do Bolsa Família sobre as mulheres de regiões de menor renda.
A ideia da pesquisa surgiu em 2005. “Eu tinha uma percepção de que a Bolsa Família provocaria impactos sobre a subjetividade das mulheres”, diz Walquíria. Para estudar a fundo a questão, a pesquisadora se dispôs a ouvir as mulheres das regiões mais pobres do Brasil. Visitou o sertão e o litoral de Alagoas, esteve nas periferias de São Luís e Recife e visitou o interior de Piauí e Maranhão. Foi também até o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, e à Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro. Lugares, em sua maioria, onde impera o trabalho informal, já que as oportunidades de emprego são quase inexistentes e o Estado é pouco atuante. As viagens, que começaram em 2006, só foram encerradas em maio deste ano.
“É muito diferente ser pobre em algumas dessas regiões e ser pobre na periferia de São Paulo, onde bem ou mal existem alternativas. Essas regiões continuam sendo carentes de boas estradas, escolas, postos de saúde. A população é em sua maioria semianalfabeta, os níveis de escolaridade são baixíssimos e não existem opções de emprego. São situações que acentuam as dificuldades”, descreve a professora da Unicamp. “As mudanças são muito lentas, por estarmos tratando de questões enraizadas e reforçadas a séculos.”
“Há um aprendizado”, diz professora da Unicamp
O principal impacto, de acordo com Walquíria Leão Rego, deve-se ao fato do Bolsa Família ser entregue em dinheiro, sem a intromissão de autoridades locais como prefeitos ou vereadores. “Se fosse uma cesta básica, aí sim teríamos espaço para o assistencialismo, porque não seria possível desenvolver certas capacidades e competências que o dinheiro, em sua função comunicativa e simbólica, acaba estimulando”, argumenta.
Ela exemplifica dizendo que várias mulheres consultadas admitiram que, no primeiro mês em que receberam o benefício, acabaram gastando todo o valor rapidamente. Em meses seguintes, porém, elas já conseguem organizar seus gastos de forma que o dinheiro recebido durasse até o começo do mês seguinte. “Há um aprendizado”, descreve a socióloga. “Essas pessoas vão aos poucos adquirindo a capacidade de programar a própria vida, além de adquirirem escolhas, como ter a opção de comer macarrão ou batata uma vez por semana, por exemplo. É algo pequeno, mas que se aplica a pessoas que não tinham nenhuma margem para escolher e agora estão desenvolvendo essa capacidade”.
Há efeitos evidentes, segundo a pesquisadora, também sobre a visão que essas mulheres fazem de si mesmas. “Elas passaram a ter crédito”, conta. “Fiz algumas entrevistas muito significativas, onde elas me falavam desse sentimento novo, de se tornar uma pessoa confiável. E elas se tornam pessoas muito mais cuidadosas, até porque passam a ter mais responsabilidades, perante a família e perante o Estado. Precisam apresentar a carteira de vacinação e os boletins escolares dos filhos para continuar recebendo”. Quase nenhuma delas dá o dinheiro para o marido, diz a professora, justamente pelo sentimento de responsabilidade que a obtenção dos recursos traz. “Algumas das entrevistadas disseram que não há futuro para elas, mas que querem usar o dinheiro para garantir um futuro para seus filhos”.
Walquíria explica que a renda do Bolsa Família estimulou o surgimento de pequenas fábricas familiares de alimentos, ou mesmo de confecções de pequeno porte. Na medida em que gerenciam esses recursos, as famílias se tornam capazes de melhorias em sua qualidade de vida, fazendo pequenos reparos em suas casas ou mesmo adquirindo eletrodomésticos e antenas parabólicas, mesmo que usadas. Algumas já estariam até demandando intervenções cirúrgicas para não ter mais filhos. “A vida delas mudou porque o universo de escolhas se amplia. E exercer o direito de escolha é uma questão fundamental para a democracia”.
A situação dos homens, no entanto, pode se tornar um fator de preocupação para o futuro próximo. “Eles estão abandonados”, adverte Walquíria. “São pobres, sem educação, não conseguem emprego e se sentem inferiorizados. Eles não são pequenos proprietários que possam usufruir do Pronaf. São pessoas esquecidas. Não há políticas para eles.” Para potencializar os efeitos do Bolsa Família sobre as populações carentes, segundo a socióloga, seria necessário um trabalho de valorização cultural e econômica dessas comunidades, além de investimentos em educação.