quarta-feira, 29 de agosto de 2018

O paraíso do Lula Molusco cheio de pessoas chatas

Já presenciei muitas vezes as pessoas de um modo geral se identificarem com o personagem Lula Molusco do desenho do qual sou fã, Bob Esponja. Ele é aquele adulto mediano que adora ficar em casa, no silêncio do seu narcisismo, metido em suas coisas, odiando a tudo e a todos que porventura atacarem seu mundinho de artes complicadas e livros de futilidades.
Não sei porque as pessoas se identificam com o que eu considero mais detestável num adulto normal. Fora o desejo inocente e até saudável de ficar muito tempo em casa que a maior parte das pessoas têm, esse personagem pratica atitudes odiosas em boa parte dos episódios, na interação com os outros vizinhos da Fenda do Biquini.
Ele é debochado, maldoso em quase todas as ocasiões, fofoqueiro e intrigueiro. É uma 'pessoa' que não se importa com os outros, não tem empatia na maior parte das vezes e quando demonstra algum sentimento, isso só acontece depois de ter vivido alguma situação em que teve que se ferrar para aprender alguma coisa.

Por que as pessoas romantizam esse personagem e se identificam tanto com ele?
Na verdade ele me lembra as pessoas mais insuportáveis que conheci em minha vida: gente que não suporta tua felicidade, pessoas fofoqueiras e imaturas emocionalmente, gente incapaz de ser amigo de verdade pois nunca se interessou de fato pelos outros.
Por que não se identificar com os seus vizinhos, bobos, infantis, porém verdadeiros em seus atos, alegres a maior parte do tempo, com algum entusiasmo pela vida? Ou pela Sandy que é estranha por ser um mamífero na água porém consegue adaptar-se a esse mundo com muita inteligencia e uma capacidade inventora.
Acredito que isto se deve pelo fato de convivemos com pessoas comuns, algumas vezes chatas e insistentes, com todas as características do nosso personagem tocador de clarinete. E muito raramente encontramos alguém que ainda mantenha dentro de si o entusiasmo pela vida, a vontade de fazer amigos e de trabalhar por simples amor ao que se faz.

É realmente legal ser o Lula Molusco? Ser como essa pessoa que precisa estar sempre recluso com medo de perder sua personalidade, alguém que não sabe lidar com o sucesso alheio sem ser tomado pela inveja? Sério que alguém se inspira em um personagem como este? É claro que sim. Este é um desenho basicamente adulto e esse personagem reflete muitos de nossos defeitos e coisas que raramente admitimos sentir.

No episódio "Cidade de Lula Molusco" ele vai para uma cidade onde tudo é como ele sempre sonhou. Uma cidade de seus iguais, onde ele encontra outros de sua espécie com suas manias e começa a viver nessa cidade, fazendo todos os dias as mesmas coisas.
Só que em determinado momento, ele percebe que sente falta daquele caos onde ele vivia, se percebe pensando em como poderia ser legal fazer algo diferente. E então ele será o primeiro habitante da cidade a fazer algo contra a cultura. Ele se torna o Bob Esponja do lugar! Uma espécie de punk destruidor dos costumes, barulhento, pois aquela cidade pacata o ameaça.
Esse é o episódio que mais gosto pois nos mostra o quanto viver fazendo tudo igual nos torna doentes de egoísmo, não nos deixando ver as outras pessoas e admirando elas como elas realmente são.
Ele sente até mesmo saudade do seu vizinho ruidoso, alegre e criança. E isso é seu o toque de 'humanidade', é o que o torna possível de ser alguém melhor.
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