Viver completamente, que grande ilusão. Sou feita de metades que se distanciaram. Minha parte mais pura, a mais verdadeira e talvez a única coisa realmente minha, simplesmente me ignora veementemente.
Foi preciso sacar de meu centro essa ruptura, foi preciso ignorar e viver na sombra de uma grande árvore, minha, porém ali, fora de mim.
Esse lugar que me cabe, essa parte que está cada vez mais longe, está inacessível, pois não tenho mais olhos, o coração perdeu-se, sou apenas um corpo vivo, que evita o sofrimento, que também ignora.
Um corpo quebrado, um espelho irrefletido, é uma casa sem alma, parece que vivo morta enquanto vivo.
E sei que estou aqui, sei que há essa parte, sei que ela está e até mesmo onde. Mas de nada importa. Há coisas que não são para ser. E ainda não percebi que, recuperar fragmentos talvez seja a sina. Talvez seja o sinal.
Por favor, corpo inerte, por que estás assim?
Por que esse descolamento, de certo não quero saber. De certo eu sei, e desconheço. Vou caminhando até a estrada do farol, só para ter a certeza de que esta parte, se porventura se manterá longe, pelo menos que esteja iluminada ainda, pelos sinais.