Minha paixão são os rádios. Livros são apenas ferramentas para as palavras. Não tenho fetiche, não guardo nem compro. Apenas tenho os livros dos escritores, raros, que admiro e quero tê-los eternamente junto a mim. Prefiro dar livros do que emprestar. A pessoa lê quando quiser e não fica naquele compromisso. E raramente vi livro que eu emprestei voltar.
Passeando pela cidade, neste meu exercício de vagabundear, entrei nesta biblioteca com meu marido e nunca mais parei de olhar as coisas. Os livros eu conferi depois. Perguntei para a atendente que, super simpática, me auxiliou na busca de um livro de terror muito raro que procuro a anos... mas que ainda não encontrei.
Hoje eu olho com os dedos. É um dedo no clique da câmera. Não no celular. Ainda estou no tempo do telefone de disco, como diz aquele que me acompanha, no mesmo bom ritmo. Mas estou muito à frente no que se refere ao contato. E isso é um progresso para quem ontem, estava em uma ilha.
Essas coisas antigas são lembranças para mim. Para quem guardou, significam um mundo de cuidado e capricho. Para quem chega e presencia, uma viagem no passado.
Uma balança de armazém - onde eu comprava doces com poucas moedas, como o Chaves do Oito.
Eu tive essa máquina de escrever. Depois, quando ela já era obsoleta. Ganhei de presente, justamente por valorizar muito as coisas. É a velha diferença entre os muitos significados da palavra materialista, que para os reacionários, dominados pela moral cristã, só tem um sentido. Não é o meu. Não ligo. Sou livre. Valorizo.
A história da máquina que eu ganhei: ela foi comprada, trocada por vários jogos de mesas e cadeiras pois valia tanto, depois estava abandonada num galpão. Ganhei de presente. Usei-a para escrever poesias, cheguei a usar para realizar provas para meus alunos. Depois fazia cópias do papel original e eles adoravam. No fim dessa história essa máquina foi deixada para trás, por coisas do 'destino'. Destino que eu escolhi. Hoje eu não sei qual o seu paradeiro. Mas na minha mente ela está fotografada, com certeza.
Fiz esta foto para guardar a beleza das rosas e o icônico das imagens dos santos que me atrai. Estudo essas coisas, por me interessar por simbologia, semiótica, etc. |
Nesta livraria encontrei diversos rádios antigos, alguns funcionando, outros não. Relógios de parede de todos os tipos, detalhes espalhados de forma delicada e organizada. Já visitei muitas livrarias, cada uma tem um jeito.
É como a sala de alguém. Bagunçada, livre, cheia, vazia - particular.
As máquinas de costura lembram a minha mãe. Foi o que ela levou de casa quando se casou: uma máquina de costura Singer manual e uma panela de ferro. Carregou pesos nas costas a vida inteira, ao casar, não poderia ser diferente.
A livraria fica na Jerônimo Coelho, 377.
Ellen Augusta