Panfletário, no sentido libertário, como nós somos em nosso ativismo de guerrilha, ele é perfeito em cada palavra. E consegue dinamitar os pilares da civilização, como ele mesmo se propõe nos seus livros. Suas palavras são armas e com elas ele cria novas possibilidades de pensamento. Elas libertam desse padrão besta, desse bom senso torpe. E o livro está lindo não?
Maria Helena Sleutjes descreve este livro e este autor como ninguém: vamos às suas palavras. Também sou fã desta escritora! Depois que ela escreve, eu não preciso mais falar...
BAZZO, Ezio Flavio. Inventário de cretinices: ou o prazer de jogar pérolas aos porcos. Brasília: Siglaviva, 2014.
Pensando alto, o escritor Ezio Flavio Bazzo, escreve. Sem dúvida, o mais literário de todos os seus livros. Um livro de viagem onde a alma do escritor se torna a paisagem, os fatos, os episódios, as pessoas. E assim, observando a vida, vai realizando seu inventário de cretinices com aquilo que registra do comportamento humano. Esbanjando cultura, bom humor, e total descontração, e em sua linguagem habitual, nos diz: “ nunca tive notícias na história do mundo, de outro ser que implorasse tanto para seguir existindo, para trabalhar, para ser acorrentado a uma escravidão, a um amor, a um vício, a uma fé, a uma pátria, a uma bandeira, a um frontispício de bordel… que gastasse a vida ingenuamente tentando converter o supérfluo em necessário…”
Inventário de Cretinices é soberbo ( no sentido de estar além) a começar pelo texto das orelhas, com seu alto poder de crítica, onde Bazzo se coloca no lugar do leitor para questionar o que foi escrito e pergunta: “E se estiver certo?”
O livro fala dos anões… Fala sim. É permeado por fotos e referências aos anões, talvez uma homenagem a estes seres olhados como anômalos e severamente discriminados como o são as minorias indefesas. Mas fala com vontade de Marseille, esta região da França que escapa da França tendo o mar e o vento Mistral como aliados. Onde a língua francesa ganha um sotaque mais intenso e marcante, onde a história se acresce de anos de história. O livro fala também da China. Tudo pretexto. Prestem atenção. Anões, China, Marseille são pretextos, porque o livro inteiro transborda mesmo e se centra na perplexidade do autor com o mundo que criamos e a raça humana. E assim ele registra: “ a vida, este ensolarado cativeiro”… “ Como viver num planeta com gente que acredita em milagres?”… “ A dor pisoteia qualquer tipo de revolta, principalmente a infantil e a poética.” …” Condenados a pena de morte antes mesmo de nascerem, os homens passam seus setenta anos embromando”…” Cuidado com poetas e professores”.
Não dá para ler e não admirar esta coragem de dizer o que tantos fazem tudo para camuflar, e assim, ao final do livro só nos resta perguntar:
- E se estiver certo??
Maria Helena Sleutjes http://veusdemaya.com.br/
Para conseguir essa preciosidade entre em contato com a Editora Sigla Viva: siglaviva@siglaviva.com.br |
"Daí o reconhecimento - mesmo tardio - de que Caim foi nosso primeiro herói iconoclasta, nosso primeiro homem de exceção, nosso titã e justiceiro pré-histórico, o mais macho dos homens e o primeiro sujeito a dizer audazmente um não, tanto a Deus como a toda imbecilidade e a toda neurose viciada e repetitiva que viria a atormentar a família nuclear pelos séculos afora."
E Bazzo no último livro que li, 'Mendigos: Párias ou Heróis da Cultura?' também apresenta Caim como o primeiro vegetariano e o primeiro a usar métodos substitutivos ao sacrifícios de animais. E Abel como "quem inaugurava os futuros malefícios dos grandes rebanhos, da reprodução planejada de animais para a carnificina dos açougues, para a comilança de carne e para a sangueira que é hoje o mundo”. E de como aquela mãe nutria um amor desigual e ainda por cima pelo filho mais perverso, caçador. Deus como sempre, vendo tudo e se divertindo, preferia a carne e desprezava os vegetais. Que tal?
Conheça mais aqui: http://eziobazzo.blogspot.com.br/