A brisa entra pelo quarto... é o vento das lápides, ali na frente há um cemitério. Como eles vivem lá, tão quietos, às vezes penso.
A tristeza vem batendo, não sou o que queria ser. Não sou o que esperam de mim, eu não sei mais quem sou.
No quarto, aquela janela tão ampla, onde a lua vem pela madrugada e o sol me incomoda de manhã, é neste quarto que sou apenas eu.
Não tenho o corpo perfeito que desejaria, não tenho o corpo definido como alguns preferem definir, mal sei qual é minha aparência neste momento. Eu só lembro da brisa que vem lá detrás da árvores do camposanto. Aquela brisa que traz memórias tão antigas, vão imprimindo em minha mente algumas tão singelas: as flores novinhas que se abrem pela manhã, as rosas fortes e viçosas que se tornam presentes para alguém, o vento do mar, o abraço daquele que amo, esse abraço quase entrou em meu quarto, é como se ele estivesse aqui.
As cores, tons de azul e por do sol, entravam em minha mente como fotografia.
As pessoas exigem a mulher perfeita, completa, a que faz tudo no tempo certo, a mulher independente, mas nem tanto. É isso o que todos querem, mas o que eu quero?
Passei minha vida inteira sem saber ao certo como responder a essa pergunta. E, agora, mais do que nunca, há uma certa pressa em minha mente. Eu preciso saber. Mas não por mim. A sociedade me cobra. Preciso saber, quais das possibilidades de mulheres incríveis eu sou.
Eu não poderei ter a escolha de não ser nada, de ser apenas a adolescente que sempre fui, a criança que ainda não se curou das suas feridas, a mulher que pensa diferente e não está nem aí.
Mas eu sinceramente gostaria de espaço, mais tempo, mais consideração, para ser e fazer só o que eu posso, só o que eu quero e que tudo seja ao meu tempo. Que tudo seja conforme minha capacidade. Não sou um gênio, não sou uma mulher maravilha, não quero ser nada.
Só gostaria de ter um pouco dessa paz. A paz de não buscar o impossível.
Quando eu era adolescente, achava que tendo minha casa, tendo minha faculdade e fazendo por mim mesma seria o suficiente.
Pois hoje, tenho minha casa, sou formada e estou na minha segunda faculdade, e parece que para muitos, nunca está bom.
Querem sempre te comparar com "o melhor" na opinião deles, a mulher ideal meus caros, é uma fantasia macabra e simplesmente não existe.
É algo que nos colocam como ideal, é o mito da beleza de Naomi Wolf, é um espantalho que fica em nossas janelas, nos assombrando através de cada pequena conquista nossa.
Por favor, me deixem ser eu mesma. Permita-me saber o que é meu e o que é dos outros, eu só preciso saber que tenho defeitos e está tudo bem não ser tudo, não ser como as outras, pois eu sou eu.