quarta-feira, 20 de maio de 2015

O código da deusa

Dos livros que terminei de ler, este é mais um dos que surpreendem, pois é a literatura moderna que cativa muito mais do que os clássicos perfeitos. Uma escrita completamente sedutora, que não deixa a desejar em nada aos grandes poetas e prosadores. Com uma trama interessante, recheada do tema que mais me atrai, os símbolos. Eu sou a atéia mais ''beata'' que existe, pois sou afoita por conhecer e entender porquê as pessoas se apegam tanto a objetos, rezas e são capazes de eleger um pau, uma pedra ou qualquer coisa e se agarrar àquilo como se fosse seu pai, mãe ou algo que nunca tiveram, ou jamais terão. Tento endender isso, admiro e estudo, paralelamente a tantas coisas que adoro ler e conservar em meu espírito que ama a tudo e a nada.

Quem é e onde está nossa deusa?
O autor é ousado ao nos entregar parte do tesouro, já nos primeiros capítulos, para os bons entendedores (eu), já vai dando um pouco do gosto da trama, mas nem por isso a história perde o fascínio. Vai ficando loucamente intrincada. E só por isso me apaixonei.

Os buscadores de Maria Magdalena, ou Maria de Magdala buscam a justiça de poderem chorar diante dos ossos de sua amada deusa. "Uma jornada para orar aos pés da exilada".
É perfeira a devoção a essa mulher, que por machismo, foi banida da história, pelos homens, que fizeram questão de a denegrirem. As mulheres cumpriram seu papel de idiotas do sistema, se juntaram aos homens para a espezinhar, confirmar que ela era sim "A prostituta". E assim, a lenda de que Maria era apenas mais uma seguidora, uma puta, uma mulher de segunda mão, seguiu pelos séculos, como uma forma de deturpar não uma, mas a todas as mulheres.

Isso, as religiosas nunca perceberam. E as outras ignoraram.
A busca por uma definição deste mistério, é pelo menos justo. Entender quem era a seguidora, namorada, esposa, ou lutadora ao lado de Jesus. Quem sabe até, ela era mais importante do que ele. Poderia estar acima até, perante sua posição como profeta. Porém, foi suplantada por inveja, machismo e malícia feminina e masculina da época e atual.

O mesmo machismo que hoje faz as mulheres achar o máximo comer carne e tomar leite - símbolo da cultura da submissão do mais fraco pela violência e poder - ter uma atitude submissa com relação à política e relativizar atos de banalização da violência, exploração do trabalho, etc, também foi o machismo que imperou durante séculos, mantendo as rédeas da religião e do controle total sobre os povos.
E não estou falando somente de uma religião específica.

Os séculos que se levaram escamoteando, soterrando o lado feminino, incentivando a vida medíocre das mulheres (elas aceitando por longo tempo e calando a boca das que se revoltavam - isso até hoje em boa parte dos países) e tornando a religião como a única coisa que importasse, causou um estrago muito grande às mulheres. Os homens, pelo menos grande parte, não sentiram nada disso, pois a sociedade é deles por todo o sempre.

A capela de Rosslyn é maravilhosa pois reúne muitos símbolos pagãos. E se acredita que ali se encontra guardado o Santo Graal.
No livro aprendi, por exemplo, mais significados para o pentagrama, o artefato que eu usava, desde os tempos em que eu era da Wicca. A estrela de cinco pontas se tornou tão interessante que comprei novamente um colar, pois o meu prateado que eu usava vendi, desde aquela época, em que deixei a prática wicca.
É preciso resgatar a deusa para ter ideia de sua origem e dos séculos de submissão a que foi exposto.
Para religar-se à aos séculos perdidos, recordar-se de que se é mulher e de que há outras mulheres, de que houve muitas mais no círculo das subjugadas, mesmo que hoje você se considere livre.
De que pode ter existido Maria de Magdala, da qual escreveu belissimamente o ateu Saramago, num dos melhores livros que já li em minha vida.
De que, se você for homem, pode querer saber que os que mais buscam descobrir a deusa são homens, e a falta que ela faz é a todos.

E isso é dito aqui, neste blog irreligioso, ateu e antiteísta, mas feminista e sagrado, pois todos amam os símbolos femininos, sem sombra de dúvidas.
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