terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A lei seca só vale para a mente

O alcoolismo na região da Serra Gaúcha novamente tem gerado resultados funestos. Já tem se tornado frequente adolescentes deitarem bêbados na rua, serem atropelados e mortos.
O motorista, que passa por ali muitas vezes durante a madrugada e não pode suspeitar que no meio da estrada ou rua terá alguém bêbado deitado, acaba tendo que assumir o peso de uma ou mais mortes.  A sociedade se volta contra ele, e, tudo volta ao 'normal'. Até acontecer novamente.
A propaganda de bebidas alcoólicas até hoje continua sendo machista. Mas não pense que os bebedores, homens e mulheres também não seguem, cada qual, cumprindo seu papel.

Na Serra e nas colônias do interior do Estado o alcoolismo é um fenômeno comum. Os jovens porque não têm o que fazer e também lhes falta um pouco de atitude para dizer um sonoro não e procurar outros lugares, outras pessoas, outras coisas, que não seja o velho pacote carro-moto-cerveja-vinho. Os mais velhos, porque a depressão e o vazio do interior lhes corrói a alma.  E eu falo de cátedra, pois tenho origem materna e paterna lá fora.

O cinismo da sociedade é tão torpe que, quando não há o completo silêncio, há até um certo orgulho no consumo e venda do álcool. É o mesmo fenômeno de quem come carne e defende fazendeiro. Não ganha um centavo, é explorado, mas faz o jogo do patrão.
Eu não racionalizo de forma alguma e não compactuo com isso. Não bebo.
Acho no mínimo medíocre, pessoas tratando do problema do álcool, falando sobre a dependência, mas na sua vida pessoal, estão sempre com um copo na mão.

Nesta postagem aqui: http://desobedienciavegana.blogspot.com.br/2014/05/desa-bafo-sobre-o-alcool.html desabafei sobre o quanto as pessoas que não bebem, incluindo meu marido, sofrem uma espécie de bullying na sociedade.
As pessoas se incomodam muito com a liberdade alheia. Se você não bebe por prazer, sem motivação religiosa ou sem motivação por saúde, elas te olham até mesmo com certa inveja. Eu tenho o maior prazer em não beber. Sinto meu paladar melhor para outras bebidas e meu tempo para experimentar outras coisas é maior.
Não tenho tempo para beber. Nem interesse.
Cada um faz o que quer, não é mesmo? Não. Muita gente é levada e movida conforme interesses outros. Nem todos fazem o que querem.
Um cantor famoso (não importa quem é, pois não foi o primeiro) estava dirigindo embriagado e causou um acidente. No rádio, o apresentador, que faz o jogo social do idiotizado, só sabia desejar "melhoras ao Fulano de Tal" - o que provocou o acidente.
No mesmo dia, que coinciência para mim que me ligo em tudo, aconteceu um acidente em que outro bebum atropelou uma pessoa. Aí foi a vez do mesmo apresentador, mais os seus ouvintes, fazerem aquele discurso de "prender e arrebentar".
Ok prender sim, só prender. Arrebentar é coisa de terceiro mundo atrasado. Mas então vamos prender a todos, famosos ou não. E comecem a falar como adultos, sem puxar saco de uns e outros.
A mais recente notícia, o que não é novidade para quem está a par sobre o assunto, é a abertura da tolerância ao álcool na direção.
Agora o sujeito poderá beber um copo de vinho e tudo bem.
Se antes, para os ricos que frequentam o shopping e que saem trocando as pernas em direção ao estacionamento, a fiscalização era nula, agora, com essa abertura (de pernas), a coisa ficou excelente.
A autora da proposta, Gorete Pereira (PR-CE), afirma que pesquisou bastante a lei de outros países. Só que ela esqueceu de se dar conta, de que os países dos quais coletou a informação, são lugares onde quase não acontecem acidentes, mortes, ou qualquer coisa do tipo, pois as pessoas lá, tem outra mentalidade.
Você que é meu leitor e é atento, já viu no supermercado espumantes infantis sem álcool com imagens de desenhos animados para meninas e de super heróis para meninos? Há uma lei no Ministério Público tentando proibir essa barbárie.
Uma das frases da deputada: "Uma lata de cerveja ou uma taça de vinho tomada por um padre, por exemplo, não causam embriaguez."
"Abstenho-me" de comentar.
Em resposta a essa frase infeliz, ao que eu imaginei milhares de padres dirigindo pelo país, tomando apenas um cálice de vinho rosé, os manifestantes levantaram cartazes com fotos de familiares mortos e faixas criticando a impunidade.

Essa pessoa foi escolhida por grande parte da população de SP para fazer esse tipo de comentário e esse tipo de leis, visando alguns interesses.

Depois de uma frase dessa, como não pensar nas intenções desse tipo de proposta?
Os interesses vem, obviamente, de empresas que vendem álcool. Preciso dizer? Sim, pois tem gente que acha que beber é um ato intelectual e nobre.
Aqui no Estado do RS uma proposta de lei para restringir a propaganda do álcool, assim como é feito com o cigarro teve forte oposição. As medidas de controle do cigarro têm feito com que mais pessoas deixem de fumar. E isso muitos políticos não querem, pois estão comprometidos com o setor.

O cidadão tem que ser muito otário para votar em alguém que chegará ao poder, terá um cargo público, para representar um setor apenas da sociedade. Mas vota em pecuarista, em fazendeiro, em empresário. Depois se queixa quando falta água.

As supostas pesquisas (muitas delas feitas em animais) dos benefícios do vinho, não me convencem, já que são realizadas com o patrocínio das próprias empresas interessadas em vender seu produto. O mesmo efeito já foi comprovado na uva ou na jabuticaba in natura, mesmo fermentadas pelo sol. E olha que eu sempre adorei um vinho. Mas não sou ingênua. Eu já bebi. Parei de beber por que me deu vontade, especialmente por princípios, e, se por qualquer razão, um dia eu vir a tomar um copo de vinho, jamais farei apologia à bebida.

Muitos pseudolibertários pagam um pau defendendo seu direito de tomar um porre.
É lamentável e triste a apologia ao álcool.
Se o sujeito quer beber, vá em frente. O problema é quando o ato em si já vira uma honra.
Uma afirmação da personalidade, um ato de supremacia, o ápice do indivíduo, bastante limitado, aliás.
Já ouvi que beber torna a pessoa mais fluida, mais inteligente, quando o que eu vejo ao longo dos anos, são pessoas sequeladas pelo álcool, e outras drogas, pensando cada vez menos ou tornando sua saúde cada vez mais no limite.
O mais chato são os naturebas que piram quando alguém toma um refrigerante mas eles mesmo tomam cerveja, vinho, etc, que é muito pior em todos os sentidos: político, ambiental, sanitário e principalmente ético.
(Um copo de cerveja, por exemplo, eleva em 50% a mais os níveis de glicose no sangue do que uma colher de sopa de açúcar.) Mas já se ouviu que 'refri' faz mal à saúde, no mesmo recinto onde se vende cerveja, mas não vende refrigerante por 'preocupação com a saúde'.

Os intelectuais, os filósofos ou músicos do passado, não eram inteligentes por que bebiam.
Eles eram brilhantes porque eram gênios.
Hoje qualquer idiota se acha um filósofo só por que toma litros de qualquer bebida que tenha glamour.
Mas para ser uma mente brilhante é preciso antes de tudo pensar muito e bem, ter uma visão crítica, não apenas sobre o mundo, mas principalmente sobre si mesmo. O que falta para muita gente.
Beber, fumar ou usar roupa legal ou cabelo diferentão não te faz inteligente.
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