Publicado originalmente na ANDA em 7 de abril de 2012
As condições dos presídios no Brasil são péssimas e me choca ver pessoas com curso superior no velho discurso demagógico de que presos não merecem ter comida, condições de higiene, etc. Que esse dinheiro deveria ser empregado em outras áreas sociais.
É o velho clichê que todo ativista pelos animais já ouviu: por que se preocupar com animais se há tanta criança passando fome?
Por que a sociedade rapidamente opina sobre o que mal conhece, mas na
hora de tomar uma atitude prefere ficar calada e omissa? No começo do
ano houve uma consulta popular para a melhora nas condições dos
presídios no país. Há dinheiro para isso assim como há dinheiro para a
educação, mas por falta de interesse social, a educação está em último
lugar na hora dos investimentos políticos. A consulta popular mal foi
divulgada nas redes sociais… Por outro lado, nas mesmas redes, diversas
imagens apontam para conceitos atrasados e reacionários sobre este e
outros assuntos que são tabu no Brasil, mas que na hora das eleições
sempre voltam à tona, não para serem discutidos, mas para servirem de
apoio a este ou àquele candidato.
Por que na hora de exigir direitos pessoais todos são categóricos, mas na hora de colaborar socialmente ninguém quer começar?
A sociedade brasileira há muito tempo precisa acordar para algo muito
sensível: o fato de um preso não ter um colchão podre e um prato de
comida jamais irá minimizar a dor de quem teve um filho assassinado ou
um ente querido ferido.
O tempo das cavernas e do olho por olho há muito tempo já passou. Há
muita gente nos presídios, muitas dessas pessoas entram para o mundo do
crime por causa da própria sociedade e não por que nasceu com uma ‘alma
terrível’. E existem criminosos fora dos presídios que a população elege
e os aceita como governantes. É quanto a isso que deveríamos refletir. E
é claro que quem comete um crime contra os direitos humanos deve pagar
mas não com outra violação, desta vez, de seus direitos.
Quando eu era criança, costumava desenhar tudo o que via. Quando
visitava pessoas em situação de miséria, ao chegar em casa fazia um
desenho da situação.
Hoje, não posso deixar de retratar as coisas que vejo e que considero
injusta. Na causa animal já temos coisas demais com que lidar, uma
incompreensão tremenda de nossa própria condição de animais humanos.
Para esta sociedade, ver um animal como coisa, como objeto a ser
devorado não é nada absurdo, é apenas consequência de anos de
condicionamento cartesiano, pois a mesma sociedade vê o outro como coisa
e o vigia incessantemente.
Não consegui assistir até o fim o documentário Justiça, da cineasta
Maria Augusta Ramos, mas sugiro para aprofundamento deste assunto.
Para terminar convido o leitor a conhecer este artigo do escritor Ezio Flavio Bazzo:
Os filhos do Ocaso/Ou o Caje é nossa Treblinka…
Entender porque os duzentos e tantos internos que estão
confinados no CAJE cometeram tais e quais crimes e transgressões sociais
não é difícil, o problema mesmo é compreender como é que uma sociedade
que se diz religiosa, trabalhadora, democrata, moderna e altruísta (até
socialista!) consegue seguir respirando e cagando ao redor de uma
instituição dessas que, nos moldes de Treblinka, mantém enjauladas
tantas crianças.
Não se agite funcionariozinho público ou comerciantezinho de
bagatelas que vai se confessar todos os domingos, pois já sei tua
opinião sobre esse assunto:
– Deviam era fuzilar esses bandidos! Não é verdade?
Pensas assim por ignorância e porque não consegues admitir que se
teus filhos tivessem nascido no inferno onde nasceram esses “pequenos
prisioneiros” estariam todos, como eles, atrás das grades e mais, pelos
mesmos delitos. Ou segues acreditando que o problema deles é genético?
Que pode ser explicado pelo espiritismo?
Há décadas os políticos juram que vão dar um jeito nesse aborto
prisional e nada. Nos finais de semana as mesmas mães estão lá junto às
cercas de arame farpado para, pelo menos, dar um abraço semanal em seus
pequenos heróis. E saibam: os crimes daquelas crianças, quase sempre são
expressões do desejo até de seus bisavós que, como elas, passaram e
suportaram infernos semelhantes…
Apesar de todas as demagogias fascistas em contrário, manter um
homem numa jaula é um crime. E um crime muito pior que qualquer outro,
já que ele é sempre consciente, planejado, vingativo e arquitetado pelo
Estado e por seus lacaios… Somos um povo lesado e atrasado, não
conseguimos fazer nada objetivamente. Perdemos nossas vidas em reuniões
inúteis e presunçosas e precisamos de anos para mudar uma mesa ou uma
janela de lugar.
O CAJE (e a escada rolante da rodoviária) são os exemplos mais
estapafúrdios. Com o dinheiro que (supostamente) já jogaram ali naqueles
calabouços daria para terem instalado água potável, saneamento básico e
orquestras sinfônicas em todas as bibocas nacionais de onde é
procedente a maioria desses pobres infratores.
Para ajudar um presídio (sim, e dá para continuar a ser ativista pelos animais) clique neste link: http://desobedienciavegana.blogspot.com.br/2011/08/doacao-de-livros-para-presidio-agricola.html
Obs.: publicado originalmente na ANDA, na data de 7 de abril de 2012, em minha coluna mensal. Sob
muitos comentários ofensivos, preconceituosos, xexelentos e de baixa
qualidade. Esse ponto me marcou, não por que eu leia comentários de portais, jamais
leio e jamais comento. Não. Me contaram. Pouco me importo com opinião. Mas me
chocou constatar o nível mental e até mesmo o caráter do tipo de pessoa que se considera
instruída e capaz de 'opinar'.