segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Libertando-me do dicionário e das normas gramaticais sim senhó

Foda-se as normas... Todo mundo gosta de ouvir Demônios da Garoa e cantar 'errado' seu jeito paulista antigo.
Mas quando é para falar mal de funkeiro, as pessoas se inflam como se fossem todos bons gramáticos, entendedores das regras douradas do Português, Latim, Brasileiro.
Foto de um armazém de um gringo que escreve exatamente conforme sua pronúncia. Toda vez que passo por ali, lembro da família da minha mãe, que também falava mais ou menos assim. Ele escreve toda a semana alguma coisa como: "batata de uma mordida só" (batatinha pequena) ou "quase tudo em oferta".
 Meu pai dizia Bassoura, Barrer... Depois fui entender que esse 'erro' não tem nada de errado, vem do Português antigo e em Espanhol existe uma semelhança imensa entre o B e o V, que só fui descobrir depois de aprender a língua e seguir no aprendizado.
Minha tentação em escrever libro toda vez que quero escrever livro, só me confirma essa verdade intuitiva.
Desencanei. Libertei. Me libertei.
Ninguém fala buceta (boceta para os gramáticos de plantão). Mas de onde vem essa palavra? Vagina é muito mais feio... e não define todo o 'órgão', já que apenas se refere a parte dele.

 "Ora, você é o “vc” de vossa mercê.", diz Juremir Machado da Silva nesse artigo onde ele diz tudo que eu gostaria de ter dito e penso.

Passando a língua nas normas gramaticais
Por Juremir Machado da Silva no Correio do Povo em 26 de agosto de 2014

Tem um projeto de simplificação da ortografia da língua portuguesa usada no Brasil tramitando no Senado. Eu sou a favor. Por uma simples razão: por que não? Língua é convenção. Não é uma verdade natural. Já escrevemos “paiz”. Há quem fique horrorizado. É só uma questão de hábito. Os argumentos dos que rejeitam essa reforma não são racionais. Não passam de exclamações subjetivas: que horror! Vai ficar muito feio! O que pretendem fazer com nossa língua! Lembra o apego de alguns ao papel. Falam assim: nada pode substituir o papel. Claro que pode. O papel é só um suporte. Não afeta as ideias. A paixão pelo papel é puro hábito geracional. Apareceu um suporte melhor, mais barato e mais eficaz. O papel pode dançar. Sinto muito.
O acordo ortográfico entre os países de língua portuguesa acabou com o trema. Ninguém morreu. O trema era útil. Eu gostava do trema. Indicava a maneira de pronunciar certas palavras. Por que não mudar outras coisas? Para que ter quatro maneiras de escrever “porque”, “por que”, “porquê” e “por quê”? Qual é mesmo a diferença entre “por que” e “por quê”? Eu sou a favor de escrever “omem”. Sou a favor de que se escreva como se fala. A escrita existe para representar a língua falada. Para que escrever letras que não são pronunciadas? Apenas para manter um rastro da origem da palavra? Para que escrever com “s” algo que soa como “z”? Abaixo “ch”, “ss” e “ç”!
Essas sutilezas só servem para decidir vaga em concurso e como sistema de hierarquia social. Não vejo qualquer problema em escrever “qero” em lugar de “quero”. Tem gente indignada com a galera que escreve “vc” em vez de “você”. Ora, você é o “vc” de vossa mercê. A nova reforma acabaria com o hífen. Beleza. Chega de tracinho para acolherar certas palavras. Nem o Evanildo Bechara, guru dos gramáticos brasileiros, deve conhecer a regra do hífen completa. Exame passaria a ser “ezame”. Faz sentido. A escrita é um registro do falado. Deve comunicar. Asa voltaria a ser “aza”. A sabedoria popular simplifica e dá lógica a essas grafias há muito tempo. Os doutos não gostam disso, pois lhes tira o poder de dizer o que é certo e errado. Os “cultos” detestam isso, pois a língua serve-lhes de distinção.
– Ora, como tudo cança, esta monotonia acabou por exhaurir-me tambem. Quiz variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudencia, philosophia e política acudiram-me (…) Póde ser minha senhora. Oxalá tenham razão; mas creia que não fallei senão depois de…
Quem foi o analfabeto que escreveu isso? Machado de Assis no “original” de Dom Casmurro. Esse era o correto da sua época. É correto, em francês, dizer “mais grande” e não pronunciar o “s” do plural (essas casa bonita). Em português, não pode. Tudo convenção, história, invenções humanas ao saber dos tempos e das circunstâncias. A língua passa. Diminuiu-se a população carcerária acabando com certos crimes. Reduz-se o analfabetismo acabando com certas regras.
– Cinismo?
Apenas um roçar de língua nas asperezas do poder simbólico.
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