sábado, 4 de janeiro de 2014

A frieza de Porto Alegre

Estou morando aqui a alguns anos e achei que o problema era comigo. Mas hoje percebo que não. Conversando com outras pessoas, descubro que algo no portoalegrense é comum. O não querer se envolver.
Eu havia percebido isso no geral, mas com amizades isso ficou evidente. Convido amigas para sair. Convido para tomar um chá, e parece que, com tanta intimidade trocada, no outro dia fica aquela coisa: "ai melhor não se envolver néeeemmmm...".
Muitas vezes aconteceu de eu conversar um monte com uma pessoa na rua e no minuto seguinte, no dia seguinte, a mesma pessoa passar por mim e fingir que não me conhece. É claro que eu, que sou bem escandalosa, vou dar um sonoro oi e, propositadamente, fazer com que a pessoa se sinta constrangida e aprenda a responder de maneira decente. Pois é inadmissível que um adulto não saiba as boas e básicas maneiras de se tratar em público.
Meu marido me contou que num condomínio que as pessoas moravam juntas durante mais de 15 anos, no dia em que houve um incêndio, ninguém era capaz de avisarem-se mutuamente do fato. Todos ficaram parados na parte de fora em silêncio se olhando, enquanto haviam idosos e animais presos dentro dos apartamentos e só ele e mais outra pessoa subiram para tocar na porta e avisar essas pessoas, incluindo algumas que desconheciam do acidente e estavam dentro de suas casas correndo risco de vida. Aqui no prédio quando aconteceu, idem. NO outro dia, havia avisinho desagradável no mural, de que os 'bombeiros' iriam fazer revisão em cada apê, coisa que nunca aconteceu.
As pessoas têm medo de que você, quando faz um convite amigável para tomar um café, comer um bolo, ver um filme, esteja na verdade o convidando para uma amizade super íntima, para morar junto ou para ir para a cama. Está escrito na cara do portoalegrense típico, que ele tem medo de se envolver em qualquer coisa. Por isso evita olhar, evita sorrir, não conversa com estranhos. Embora seja por demais ingênuo, pois isso não evita de modo algum o envolvimento e nem o desenrolar de fatos desagradáveis, se o sujeito não tiver prudência e maturidade, acima de tudo. Tenho conhecido pessoas imaturas, que acham que evitando se envolver com os outros, evitam problemas, mas elas se tornam chatas e cheias de manias.
Todas as vezes que conversei um monte com um estranho nas ruas de Porto Alegre, descobri que ele era do interior.
Pessoas que só querem conversar não querem te paquerar, nem querem te roubar, nem te fazer passar por bobo, entende amigo cidadão?

Esse desabafo, que não interessa para ninguém, é para que fique registrado que aqui nessa cidade encontrei o maior número de pessoas com essa frieza no comportamento, e não achei nada bonito, ao contrário. Achei sim bastante comum entre todos. No lugar onde morei as pessoas tinham lá seus defeitos, mas todos se encontravam vez ou outra. Todos detestavam morar lá, eu não!
São Leopoldo, por exemplo, é uma cidade de muita fofoca, estudei e trabalhei lá durante mais de dez anos. As pessoas vasculham sua vida, são bastante interesseiras no que se referem à sua vida particular, conheci as pessoas mais fofoqueiras possíveis. Lembro de que até seu passado sexual era investigado, toda vez que você era apresentado a um grupo novo ou pessoa, era terrível, tenho péssimas lembranças daquela cidade.
O fato de eu ser solteira era visto como ameaçador para as mulheres idiotas com quem convivi em um certo lugar onde trabalhei, pelo fato de eu ser a única solteira e desimpedida naquela altura. E não pense que os homens não eram também ameaçados pelo fato de eu estar sozinha. Que triste isso. E como se eu estivesse interessadíssima naquele macharedo de lá. Fiquei bastante chocada ao saber que até mesmo onde as pessoas possuem 'nivel superior' o comportamento 'baixo nível' impera.
Eu detesto bairrismo e não tenho compromisso com cidade alguma. Não nasci em lugar algum, não sou de lugar nenhum. Portanto, não tenho por que ficar romantizando este ou aquele espaço geográfico.
Se você, por ventura ou desgraça, nasceu neste ou naquele hospital, eu lamento informar, mas neste blog eu falo e desabafo o que me vem à mente e hoje o assunto é: gente que não se envolve em nada por que tem medo de gente.
Eu amo qualquer lugar do mundo, me sinto feliz onde estiver.
Estou generalizando, óbvio, por que é preciso sim generalizar, por que é o que um comportamento costuma fazer. Esse tipo de comportamento se espalha entre as pessoas, é comum e é como a linguagem, algo vivo que se transforma.
Mas entendo e, acho que só os ignorantes ignoram, que existem pessoas em todos os lugares que não se comportam como a maioria. Não respondem às generalizações, por que são pessoas diferentes. Cada cidade das que citei, possuem pessoas incríveis, preciso dizer, para os que ainda não sabem.

Outrossim, para quem faz terapia, a tendência é sempre estar atento para saber em que ponto nós estamos errando com as pessoas, mas chega o momento em que você percebe que existem os outros, e é aí que você se sente mais livre. Até mesmo para escrever sobre isso. Numa boa.

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