quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

A única retrospectiva de 2014

Não tenho televisão em casa. Saí ontem para passear com meu marido. Cidade vazia. Quem não estava numa praia famosa, estava em casa vendo a retrospectiva do ano, na TV.
A única lembrança que fica deste ano foi a partida de meu querido Chespirito. Querido para mim e tantos mais. Quem tem um ídolo, quem é fã, pode compreender o que sinto. Mas a palavra fã, que vem de fanático, não corresponde ao que eu sinto com relação a sua pessoa e obra.
Eu, que sempre vivi meio solitária, que sempre tive meus problemas com relação à 'família', o amava como alguém muito próximo.
Não o via sem defeitos, não o idealizava, como fazem alguns fãs, achando inclusive que o ídolo possui 'deveres' com relação ao público. Uma característica do fanatismo é o extremo egoísmo.
Não. Talvez mesmo por conta de seus personagens, sua genialidade permitiu colocar em cada um deles um pouco de humanidade.
O herói Chapolin Colorado não era invencível e manifestava seu medo, não conseguia disfarçar seus defeitos, que não eram poucos. Ele tinha muito de Chaplin, pois Bolaños se inspirava nele, era sua docilidade, seus cenários, aquele ar anos setenta, tudo era muita ternura. Sua característica era a simplicidade. O gênio é aquele que faz do simples o melhor, e aquele que diz o óbvio, que mostra o que todos não viram. Assim, com simplicidade, ele fazia rir. Eu ria e chorava. O riso me emociona.
Chaves do Oito, colocou muita emoção no humor. Os episódios em espanhol revelam sutilezas, as críticas sociais, a cultura de uma época, que é sempre atual. As dublagens são nostálgicas, os fãs adoram as trilhas sonoras, as chamadas BGM's (Back Ground Music).
O dia em que conheci Kiko foi o melhor dia de minha vida. E dizer isso pode soar infantil para muitas pessoas. Mas estou sendo sincera. É realmente a minha criança interior que fala. O abracei naquele momento e era como encontrar aquele que já conhecia a tanto tempo, para apenas dizer: obrigada!
E ontem, quando vi novamente o clipe de abertura do show, me emocionei novamente.
Um dia, um apresentador criticou Chespirito de maneira debochada, de "como é estranho que seus episódios façam tanto sucesso, já que não tem graça alguma". Ao que ele respondeu mais ou menos assim: Se uma coisa que faz rir a tantas pessoas não causa graça a você, algo deve estar errado é com você.
Eu não fico indiferente a nada do que aconteceu neste ano. Porém, o que me marcou foi sua partida. O México inteiro parou simplesmente. Alguém disse que foi como se Chaves tivesse morrido. Quando vi seu féretro, o caminhão carregando seu caixão, todo em vermelho com Chaves e seu barril de um lado, de outro Chapolin, e seu martelo e o coração - sua insígnia, realmente a dor veio como a sensação de que ali marchava Chaves e Chapolin para a sepultura.
Depois, retornou a sensação natural de que seu trabalho é eterno e vivo. Por essa razão nunca morrerá. Nós também manteremos vivaz sua marca neste mundo. Porque uma pessoa que fez rir e refletir, sempre merecerá ser lembrada. Como neste mundo quem faz o bem muitas vezes é criticado, quem faz rir de forma doce, deve sempre ser amado.
 Gracias Chespirito.
À maneira do blog Desobediência Vegana, desejo um feliz ano novo a todos os meus leitores.
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