sábado, 2 de maio de 2015

Quando a terra me chama e não é para morrer - As três fases de uma mulher

 Há aquele momento da tarde de um dia livre, ausente daquela sensação de prisão que eu tive até então, dos dias de intenso trabalho, que as ruas da cidade me chamam para a caminhada tão desejada. Mas não é só isso. A terra me chama, mas não é só ela. Sinto que algo tão profundo vem de longe até o presente, lá do fundo de minha memória.
 O cheiro da rua, da grama, desta terra que nunca mais eu vi. De um pátio de minha casa esquecida. De quando eu vivia mesmo, era outra época, havia pátio, pedras no chão, terra e grama por todos os lados. Havia mãe e pai. Eu senti saudades de ter terra debaixo de meus pés.
 Senti falta de ter um jardim. Senti um ambiente, pois já não há mais pessoas, não há mais quase nada humano. Sempre ficam os lugares, as pessoas, essas já morreram. A terra as leva para longe.
Essa mesma terra que eu hoje sinto me chamar, para uma vida que eu tive e, se não era tão feliz, que digamos, pelo menos me fazia respirar!
 Andar pelas ruas e encontrar casas antigas, pátios e jardins, cruzar por pessoas que até te cumprimentam, quando se vive em apartamentos convivendo com vizinhos 'bem sucedidos' que jamais podem descer do salto e baixar a guarda é um contraste louco. Pensar que na mesma cidade há gatos e antiguidades, flores e árvores tudo isso ao nosso redor e aqui mesmo ao lado de minha casa, mas não vejo, ou vejo tão pouco, é triste e feliz ao mesmo tempo.
 O chão é tão limpo que é preciso sentar nele e ali ficar mais um pouco.
 A imagem abaixo não foi montada para a foto, foi o desejo sincero de sumir. Não de sugar a natureza como fazem os ambientalistas, naturebas, os esotéricos e toda a corja que usa a Natureza como tema eterno de seus falatórios. Tão logo a sua ansiedade acaba, já estão surfando em seu egoísmo e ganância, explorando a natureza, as pessoas, e sobretudo os animais.
 Abracei a árvore que considero a mais linda de todas.
 Caesalpinia ferrea, conhecida como pau ferro


 Não sei o que o pintor queria dizer com a cena abaixo, mas eu interpretei como sendo a Deusa Tríplice, ou as três fases da mulher, também conhecida como as fases da lua, etc.
 As três fases de uma mulher: A jovem, a mulher na sua fase plena - se ela QUISER poderá ser mãe, e a mulher anciã.
Eu sempre estive entre a mulher jovem e velha. Sempre fui plena. E sempre fui todas. Tenho o instinto materno mais forte que já pude conhecer. E decidi nunca ter filhos. Tomei essa feliz decisão na minha adolescência.
 E sempre fui afortunada, por um lado. Por outro, eternamente buscando minha mãe, mesmo tendo a minha, mesmo quando a tive, a buscava. E quando a perdi, a perdi duas vezes.
Todas as fotos: Marcio de Almeida Bueno/http://diretodeportoalegre.blogspot.com.br/

 E só há um remédio para acalentar um coração que busca: caminhar e escrever. As palavras saem e caminham com as mãos e os pés.
 Estou escrevendo, em paralelo com este blog, um outro texto, sobre um tesouro que encontrei, que vai entrelaçar histórias. Talvez ali a melancolia se transforme cada vez mais em poesia. 
Lá as três deusas são anciãs, incluindo eu.
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