segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A água insistente, do momento presente.

Sentir e aproveitar o tempo que se tem, é o que chamam de viver o presente. Ontem, passei por uma arte de rua que dizia "Nós somos apenas este momento". Ao lado, alguém, muito maldosamente, escreveu de caneta, que a ditadura do presente é coisa do neoliberalismo. Será mesmo? O panfletário é isto mesmo, uma forma de soco na mente, para te fazer pensar. E é preciso o panfletário.
foto Marcio de Almeida Bueno http://diretodeportoalegre.blogspot.com.br/

Na mídia, as pessoas tendem a acreditar em uma frase bonita, redonda, sem ao menos pensar se ela realmente faz sentido. O sujeito vive preso ao passado, romantizando ou praguejando contra seus atos. E também vive afoito acumulando e correndo em direção ao futuro. Isso sim é característica do que quer que seja, de nocivo. Tenha o nome que for. O você, da arte urbana, seja eu, seja outrém, é apenas este exato momento? Somos parte do passado e do futuro que construímos e sonhamos.
Trago em mim algumas rosas, guardo-as na alma.
Venho fazendo terapia para jogar fora as barras de ferro do meu passado e deixar de jogar-me ao futuro, abandonando o presente! Mas somos sim, uma construção de passado e futuro, das coisas que mantemos em nosso presente. Não somos absolutos instantes.
foto Marcio de Almeida Bueno http://diretodeportoalegre.blogspot.com.br/
 Existe essa fontezinha de água que corre bem em frente a uma casinha de madeira. O tempo parou mesmo ali. E muita gente vai pegar água, seja para economizar, seja para sentir o gosto de uma água sem gosto algum. Eu cresci tomando água de poço, fresquinha no Verão e quente no Inverno. Quase ninguém sabe o que é isso. Eu lembro que falava para meus colegas de escola primária, a maior parte bem medíocre, que a água lá de casa era de poço e eles riam, pois entendiam "poço" como "fossa". Não podiam conceber água vinda de outro lugar, que não fosse da torneira. Pois bem, há águas que brotam de fontes naturais, e não podem ser contidas. Nessa região da cidade existe, inclusive, um rio, que passa debaixo de uma rua. Essa rua vive abrindo imensos buracos, por conta dessa ferida, o rio, que não quer calar.
foto Marcio de Almeida Bueno http://diretodeportoalegre.blogspot.com.br/
 O poço lá de minha infância era todo de pedra, lindamente sombrio, fresco e tranquilo. Por isso hoje, minha referencia de paz é sempre a umidade, as plantas de ambiente sombrio e tropical úmido.
Ativismo dos 'gringos' - Ah quê - que água imprópria o quê! Eles mesmos deram seu parecer.  foto Marcio de Almeida Bueno http://diretodeportoalegre.blogspot.com.br/
Um dia, a água ficou escura. Um vizinho começou a criar porcos. Tivemos que ficar alguns anos sem usar a água até a pessoa abandonar a criação de animais. Durante esse tempo, a água foi limpando, mas a gente tinha medo de usar. Tinhamos que usar na lavagem do pátio, para outros fins. E dava pena de ver a água limpa sendo desperdiçada. Quem ainda crê que a suinocultura não polui as águas, leia sobre os efeitos dela em Santa Catarina, por exemplo. Depois de a água limpar novamente, minha mãe fez análize em laboratórios, e voltamos a tomar a água. Aí está um momento passado, no presente momento.
foto Marcio de Almeida Bueno http://diretodeportoalegre.blogspot.com.br/
 Esta fonte recebeu aquela plaquita de "água imprópria para o consumo" mas, para os que costumam passar ali para buscar água, a placa não causou mudança alguma. Todos os dias, os carros param, desce alguém com jarros, garrafas de plásticos e até bombonas, para encher dessa poderosa água. Eu a provei e o gostinho era mesmo daquela água de poço lá de minha infância. Imagino que seja por isso, pela saudade desse contato da natureza, com a infância, com a água de verdade, que as pessoas recorrem a esses locais, mesmo sob o risco de contaminação.
Aliás, uma pesquisa realizada em bombonas de água minerais de diversos Estados, incluindo marcas famosas do Rio Grande do Sul,  revelou altos índices de bactérias e sujeiras na água. Procure saber leitor, que água mineral não é sinônimo de água limpa, nem água pura. E aqui no blog não tem fonte de pesquisa, só de água. Se quiser saber mais, procure por você mesmo.
A santinha em frente à fonte de água. foto Marcio de Almeida Bueno http://diretodeportoalegre.blogspot.com.br/
 Antes de terminar essa postagem eu saí para fazer um trabalho e no caminho, lembrei de uma música. Juro que foi sem querer, mas ela tem tudo a ver com o que escrevi. Seja porque é meu ídolo e ando sempre junto com suas palavras, Renato Russo falava na Música Há Tempos, do tempo, dos santos, da urbanidade, dos sonhos e da dor contida em cada coisa reprimida, nas nossas palavras. E do poço.

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