quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Para onde vão tantos presentes?

Enquanto meu marido fazia trabalho voluntário com moradores de rua e crianças pobres, sem brinquedos, sem quase nada, eu estava trabalhando temporariamente em um shopping, cercada de gente fina, ou nem tanto, com crianças falando coisas do tipo: "Essa loja tem nos Estados Unidos?"
(lembrando que eu não tenho essa doença dos colonizados, de achar que estamos sendo perseguidos pelos Estates. Eles, francamente, nem ligam para nós...Falar isso usando calça jeans, me soa tão bobo. Resolvemos nosso problema com o patriarcado aqui dentro, primeiro).
Essa diferença brutal não me fez mal, pois eu sei que fizemos milhares de coisas o ano inteiro e que, trabalhar assim foi o que precisei fazer, neste momento.
Ver o outro lado, ou seja, ser quem atende e não quem é atendido, é o que muita gente precisaria vivenciar.
Tenho experiência dos dois lados. Direito do consumidor é comigo. E vendo bem. Eu trabalho com praticamente todas as áreas. Mas sou absolutamente contra o trabalho. Só quando gostamos do que fazemos.
Desta vez, minha experiência foi ser vendedora em uma Pharmácia antiga, de produtos maravilhosos, não testados em animais, a maior parte deles de origem vegetal, com embalagens vintage. Portanto, já a conhecia e já tinha larga experiência em tudo ali dentro. Não precisei de treinamento. Foi entrar e vender.
Você conhece o mundo, ou parte dele, nos tipos que entram numa loja. Quanto mais perto do natal, mais arrogantes se tornam as pessoas. Mais fúteis e mais baratinhos se tornam os presentes. Foi triste, mas nada diferente do que eu já sabia dobre as pessoas. Apenas constatamos como funciona a mecânica em que as pessoas compactuam mutuamente.
O irritante nem sempre são as pessoas, por vezes são os estereótipos. Às vezes, quando eu achava que eram as mesmas pessoas, via que apenas eram os mesmos 'esquemas' que estavam entrando no estabelecimento. As mesmas roupas, os mesmos cabelos. As senhoras entrando em pares, os casais gays, os homens solteiros meio tarados, as mães desesperadas, as indecisas, as 'pin ups' se achando as super alternativas com aqueles cabelos coloridos, os caras da música, os de preto, as pessoas pão duras, a lista é muito grande, incluindo muitas pessoas incríveis, onde a conversa ia se estendendo a ponto de o ato de vender, ser apenas o segundo item do "trabalho".
Não me importo com nada disso, eu também entro e saio de roupas estilos e modos de ser.
O triste é ser escravo e 'se achar' superior aos outros.
Quanto mais pertinho da hora de fechar da Pharmácia mais tolos iam entrando e quanto mais perto do natal, quando a fila ia chegando até perto da porta de entrada, apareciam pessoas para trocar um sabonetinho, por que não gostavam da cor. O shopping num caos total, até luz faltou. Mas para o sem noção, não importa.
Os "problemas" como a falta de embalagens para presentes, geram fúria nos clientes que descontam o ódio nos funcionários.
Acham que a moça do caixa é a 'dona' da empresa. E 'que estranho' que todos os produtos sumiram das prateleiras!!!! (Não exisita a tal crise que o Aécio N3ves vivia falando, não???)
Acham que a culpa é do moço do estoque. Sim, a culpa é dele.
O natal significa essas pessoas.
As que compram presentes falsos para quem nem conhece.
As que participam de amigos secretos, forçados.
Tenho terror de amigo-secreto. Amigo você conhece e sabe o nome.
Eu conheci ali pessoas que presentearam quem nem gostavam! Gente estúpida.
Tive sorte, mas creio que não foi sorte, foi peito, pois só peitei um ou dois sem noção.
Mas teve mais de mil dando chilique no caixa da loja, onde eu não trabalhei, por bem de meu coração.
Gente sem empatia, que depois vai segurar o presépio e comer o tender.
Acham que o empregado da loja é seu criado, pois a cultura do Brasil ainda é escravagista, a começar pela polícia, e pelos shoppings da cidade, que selecionam bem quem entra ali dentro.
Experimentei o lado humano do consumo. Pois o hiponga acha que tudo é ruim no ato de consumir. Não é não. Presentear quem você ama é um ato de coragem, é mais legal que ganhar presentes. Embora eu ame receber presentes, obviamente.
Para um senhor de cadeira de rodas, bem velhinho, li toda a história da Pharmácia desde sua origem, produtos e embalagens, do livro que ficava em cima da bancada. Pois ele não acreditava que aquele local era tão antigo e estava ali, dentro de um shopping!
Com outro, de mesma idade, que não podia falar, tive que sinalizar. E assim nos comunicamos um com o outro, preços, cor e cheiros.  A linguagem é sempre universal.
Uma outra senhora me contava como adorava presentear sua nora. Não se aguentava e entregava os presentes antes da hora - como eu sempre fazia para minha mãe - comprava muitos presentes por onde ia, lembrando sempre da esposa de seu filho.
Lembrei da minha sogra, e lhe contei que ela era assim! Ficamos conversando e lhe disse que ela era como minha segunda mãe. E assim lhe ajudei a escolher seu presente pensando em mim mesma como referência.
Entrou na loja um casal de veganos a perguntar sobre os sabonetes vegetais! E eu lhes disse, todos são, com exceção de um com lanolina, outro com mel e um outro produto com seda... alguns produtos também contém agentes químicos de origem animal, mas vou lendo para vocês os rótulos. Pois eu também não uso nada de origem animal e entendo tudo de rótulos. Até então eu não sabia que eles eram veganos.
Depois conversamos e descobri que eram do interior e estavam a procura de produtos veganos. A experiência foi muito legal. A poucos anos atrás, não só não existia nada para nós, como era esquisito a própria palabra vegano, e mais raro ainda era você encontrar um vegano!
Uma noite, já muito tarde, um senhor foleando o livro antigo que havia em cima da bancada de produtos vintage, ia me perguntando se eu conhecia a pomada de tal marca, outros rótulos antigos, etc No fim da conversa até para meu marido ele mandou um abraço. Por fim um cara me mostrou a foto de sua sobrinha e me pediu para montar um presente rock' in roll. Você passa a conhecer um pouco da vida de cada pessoa quando há um contato legal.
O contrário, quando há grosseria, a pessoa sai da loja, deixando um rastro de amargo. Fico pensando que ela leva consigo essa vida, no trabalho, na vida amorosa. Como uma grosseira que comprou um presente para homem e se emputeceu por que simplesmente queria abrir todas as embalagens ali mesmo, antes de comprar o produto e, ao ouvir um não, ficou um uma cara de enojada, a ponto de sair da loja enfurecida. Uma mulher muito bonita entrou com um cão numa bolsa chique. Outras duas começaram a falar mal dela, pelo fato de entrar numa loja portanto animais. Eu ouvi, mas percebi que o que as incomodava mais, era o fato da outra ser extremamente bonita e não tanto o cachorro. Eu acho deplorável o ato de levar animais como enfeite, em bolsas, etc. Mas não pude deixar de notar a inveja estampada na cara de duas mulheres e o ódio que manifestavam contra os animais.
Qualidades dos sexos - agora vou dividir, exatamente como as pessoas se comportam e como o comércio sacou e se preparou bem para isso.

O homem tem a qualidade de chegar e levar. Compram caro, não são mesquinhos no gastar e práticos quando gastam. Os pão duros, quando existem, não aparecem nestes lugares, ainda bem. Pois não suporto mesquinhos. Mas as mulheres mesquinhas aparecem.
Todos os homens que atendi se comportaram desta maneira, práticos, rápidos. Você não perde tempo com eles, eles não perdem tempo. E compram coisas legais, perguntam a opinião da vendedora, o que achei interessante, pois se importam tanto com a pessoa que vai receber o presente, como com quem está vendendo. Também é sinal de que admitem que não entendem essa minuciosidade que a mulher entende muito bem. O que é sim uma qualidade da mulher, a escolha.
Todos os Xiliques vieram das mulheres. Lá no caixa da loja, ouvia de longe as reclamações. Quando ouviam um não, não podiam suportar e faziam novamente a mesma pergunta. Ou fechavam a cara, como crianças mimadas. Mostrando que, para superar o machismo, ainda falta o que amadurecer.
A indecisão para comprar desde um sabonete, até o produto mais caro, partiu delas. Algumas deixaram crianças soltas, enchendo o saco. Outra simplesmente deixou a criança sozinha no carrinho, perto da porta, enquanto se perdia nas prateleiras. Houve ainda quem não se incomodasse nem um pouco quando suas criaturas destruiam toda a loja.
 Deve ser por essa razão que o comércio é praticamente voltado para as minhas companheiras.

(E, para quem desembarcou no meu blog hoje, lembro que é óbvio que eu estou falando do que vivencio, que há exceções, etc etc. Interprete o texto.)
Se me encanto com estes bons velhinhos, é por que não tive muita infância, que digamos. Conferi bem os pelegos do papai noel e dos ursinhos fofos antes de bater essa fotografia, fiquem tranquilos, não é pele de animais!!!!
Um feliz natal a meus leitores.
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