domingo, 2 de novembro de 2014

Día de Los Muertos

Estava na casa de um amigo e olhei para a parede. Quando levantei os olhos e vi o quadro ilustrando a Festa de Día de Los Muertos, do México, meu olhar brilhou para sempre. Naquela época eu era uma mistura de gótica, dark, poeta, triste e sensível, a melancolia inspirada nas coisas ligadas à morte. Como a religião não me bastava para exorcizar os demônios internos, deixei-os dominar-me inteiramente, através das delícias de estudar este tipo de assunto, atraente, fascinante e sem fim.
Eu amei aquela imagem, a noite iluminada, o cemitério cheio de pessoas, luzes por toda a parte, comida, e imaginei também as conversas, música e danças talvez e o aspecto da morte por todos os lados.
A festa é realizada no México e também nos Estados Unidos, por conta da grande parcela de mexicanos residentes ali. É tanto realizada por indígenas quanto pela população urbana ou rural. Sabemos todos que os mexicanos tem uma ligação fenomenal com a morte e com a religiosidade. Talvez por viverem num país extremamente violento, mas principalmente por manterem muito vivas suas ligações ancestrais, isso sim!
Pois a festa é celebrada muito antes da colonização hispânica. Daí vem o culto à Santissima Muerte, que a religião católica abomina. Mas que, porém, o povo jamais abandona, identificando nela, a mãe que leva as almas e protege a todos durante a vida. Alguns mexicanos desabafam dizendo que a igreja católica nunca lhes ajudaram em nada e, ainda, lhes tiraram a possibilidade de ter sua crença. A Santa Muerte é uma devoção tão forte e interessante, que na rua mesmo, a santa é adornada com cabelos humanos, flores e artefatos mexicanos. Já citei a Santa Morte muitas vezes neste blog, em breve farei alguma postagem sobre ela aqui. Pois obviamente, sendo ela uma divindade feminina, mexicana, e sendo a morte, sou sua fã!
No dia primeiro de novembro, é o dia de los muertos chiquitos, das almas pequeninas. E no dia dois, é o dia dos mortos adultos. Em algumas regiões, o dia 28 é o dia de quem morreu de acidentes, o dia 30 é o dia que se espera a chegada das crianças que vem do limbo, ou seja, daquelas crianças que não tiveram batismo. Não tem relação alguma com o Helloween, embora seja muito semelhante a ideia. Nossa velha tentativa de dar as mãos aos mortos e dizer um olá para a Morte.
Eu enfeito a casa pouco antes do dia 31, que é comemorado o Helloween na tradição americana, por gostar da ritualística toda. Obviamente, não estou interessada na religião original desta data (no Hemisfério Sul, Helloween/Samhain é comemorado em maio, e eu enfeito a casa da mesma forma pois adoro coisas ligadas à morte) mas no conteúdo simbólico e icônico. E já estendo toda a ideia até o dia 2 de novembro. A casa então está cheia de velas eletrônicas (aquelas que funcionam à pilha), abóboritas pequeninas, caveirinhas, um altar para a Santa Morte, pimentas, flores, meu mundo gótico de sempre e um pequeno fanzine que reproduz um poema de catrinas, antigo, que meu marido arrumou dos fanzineiros. Devo ter postado por aí no blog. É uma das minhas raridades. O poema é muito verdadeiro, e diz que de qualquer forma que você seja agora, um dia você se tornará uma simples caveira.
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