terça-feira, 14 de outubro de 2014

Verbos infantis - palavras transitivas: escrevendo para a criança morta

Para Erico

Chover pelas árvores, correr pelas calçadas, folhas e rosas esquecidas no olhar.
O guarda-chuva caminha e a música - sempre a voz - fere ouvidos emocionados.
Vou encontrar o mago.
Contar segredos...malditos.
Na sala dos sonhos, não tem velas acesas, nem incenso, nem toda aquela ritualística dos tempos ingênuos.
O que há ali é um imenso espelho a se partir, a rudez de quebrar pedras, atravessar portais translúcidos, com um corpo de nudez, e alma dilacerada.
As lágrimas no vidro dos olhos, vergonhosas mãos escondem a dor, tudo em frente de deus.

No outro lado da rua a criança chora com sua boneca nova. A mãe está atrás da porta. Ela - um conto de lágrimas. Sabe que chorará até o último dia, deste evento que chamamos de: 'sua vida', mas que é nada mais do que - morte - a cada minuto que deixamos para trás.
O bebê que a criança carrega, é de brinquedo. A criança que o adulto adormece dentro de si - chora e sangra.
Caminha por cemitérios enfeitados de rosas, névoa branca entre lápides, ela está morta.
É a melancolia infinita, de tempos remotos, de dores esquecidas. De bonecas partidas. De afetos que nunca existiram. A solitude necessitava o vazio, e seu direito ao amor. A mente viajava para o distante, buscando o domínio de si mesma - a menina poeta. Eu já sabia.
O amigo trouxe pela primeira vez o abraço - irmão - amado, em troca daquele que não foi.
Olhos de água escura, cujo fundo se perdia em ternura.
Jardim cuidado por mãos tristes, por lágrimas sem remédios.
A criança está sozinha. E hoje eu a vi chorar, por uma boneca que ficou para trás.
Ellen Augusta
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