domingo, 24 de agosto de 2014

A infância através do espelho - acriança no adulto, a literatura na psicanálise

Já tive minhas épocas de ler alguns livros de psicologia, como já li sobre muitas coisas, amadora de tudo, especialista de nada. Hoje posso me dar a liberdade de vagar, por que não é preciso ser restrito. E fico longe, cada vez mais longe dessa 'especialidade', dessas pessoas que tudo sabem sobre um assunto, e nada sabem sobre mais nada. Como muita gente da época da minha faculdade, verdadeiros torpes metidos nas salas de suas especiarias, ignorantes no tudo o mais que os cercavam.

Porém, jamais devemos desprezar os que verdadeiramente estudam, pois destes dependem toda a sabedoria.

Um dos autores que descobri sozinha foi Freud. Com uma amiga, foi Carl Gustav Jung. Na sua esteira estão livros como Mulheres que correm com os lobos, de Clarissa Pinkola, que depois descobri com Ezio Flavio Bazzo, ácido, que eram puramente simbologia escrita por homens para mulheres. De um certo ponto de vista, lhe dei razão, e neste post você verá porquê.

Os livros de psicologia modernos são sempre aqueles livros padronizados, com aquele caráter corporativo. Falam como professorinhas chatas. Ou como professor pateta com conselhos bunda.
Quem nunca olhou pela janela da sala de aula, para ver que o mundo lá fora, se é de crianças, verdeja, se é de adolescentes, pega fogo.

O livro que estou lendo chama-se A infância através do espelho - a criança no adulto, a literatura na psicanálise. E me foi recomendado por alguém com total autoridade no assunto. Por isso aceitei como um presente e um elogio. A literatura foi uma forma de eu, criança, lidar com a solidão. A literatura foi a maneira de eu não ter que depender de religiões e deuses inúteis. Já havia descoberto isso lá na infância quando comecei a ler historinhas infantis, e não me apegar a estrelinhas da sorte.  No dia em que esse livro veio em minhas mãos, eu soube disso em terapia.

Começo sempre pela crítica no que não gostei.
No capítulo sobre sexualidade, o autor já inicia com aquele papo velho de colocar o peso em cima das mães sobre o futuro da sexualidade dos bebês.
Nenhum pio sobre a homossexualidade, essa ambivalência.
Depois, como se estivesse a falar para uma plateia de homens, vem com uma história sexual de um gaúcho, típica das bravatas que se contam por aqui.
O autor, portoalegrense, não foi nada criativo ao escolher como exemplo, o macho gaúcho, sutilmente citado como barranqueador (aquele que transa com animais no campo) que costuma chamar sua parceira de égua. Ele cumpriu seu papel de homem. Como feminista, animalista e leitora, esperava algo melhor.
Especialmente neste assunto delicado que é a infância e a sexualidade.
Daí, foi como se o livro tivesse um divisor, pois esse capítulo foi atípico. Os outros tiveram a mesma qualidade. Foram fluidos e emocionantes, requisito total para leitura.
Ele reuniu a literatura com a psicanálise de uma forma poética, entrelaçando conceitos e mostrando saídas, e também falou de projetos com crianças carentes que realiza em Porto Alegre e de sua experiência no exterior. Lágrimas, sorrisos, pensamentos, reflexões, algumas das coisas que o livro precisa provocar para ser lido, ali encontrei. E principalmente - o assunto Literatura, Poesia, Livros, Escritores, Poetas.
A sexualidade infantil, como sempre, assim como a feminina, ficou em aberto.

O livro chama-se A infância através do espelho - acriança no adulto, a literatura na psicanálise, de Celso Gutfreind.
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