segunda-feira, 16 de junho de 2014

Brasília de ontem - Copa do mundo de hoje - Uma leitura da biografia do Renato Russo

Tom Jobim e Vinícius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Clarice Lispector e outros se desmancharam de amores pela nova cidade.
Somente quem veio de fora é que pôde lançar um ar de lucidez sobre o delírio que estava por nascer.
Aldous Huxley extranhou o fato de cientistas sociais não terem sido consultados durante a construção da capital.
"Uma cidade nova é um problema de vida e portanto de antropologia, de sociologia e de biologia. De modo algum, um problema apenas de arquitetura."
Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sartre também estiveram pensando sobre a cidade.
Ela considerou a "loucura de  erguer uma cidade tão artificial em meio a um deserto."
Em visita ao lugar fantástico ela revelou que guardara a impressão de ter presenciado "o nascer de um monstro cujos corações e pulmões funcionavam artificialmente, graças a processos de um custo mirabolante", considerou a obra como "a mais demente lucubração que o cérebro humano jamais concebeu."
"Essa cidade jamais terá alma, coração, carne ou sangue."
A história do surgimento de Brasília é o começo do livro da vida de Renato Russo. O contexto social do país, onde estou lendo no momento o período da ditadura militar. A imposição do silêncio, o delírio dos gastos desnecessários, o consumo a todo vapor e uma sensação de insegurança para os jovens. Muita gente alienada, até mesmo na juventude, como verificou Caetano.
Numa visita da rainha Elizabeth II o prefeito de Brasília a presenteia com duas onças. Onças vivas amigos! Esse é nosso Brasil. E não pense que hoje é diferente, só por que você está mergulhado no contexto. Visto de longe tudo é absurdo, mas dentro da coisa achamos tudo normal.
É só ver a reação das pessoas contra as manifestações sociais neste período da copa, outro delírio histórico. Compare as fotos (http://www.sul21.com.br/jornal/fotos-da-semana-10/) dos torcedores abraçados nas bandeiras com as fotos dos manifestantes, de quem você tem mais pena? Eu tenho mais pena dos torcedores, resignados, que depois de aceitar as migalhas, pegam o ônibus para voltar para a casa. Só ingênuos acham que se uma pessoa abaixar a cabeça e apenas trabalhar sem se queixar de nada, como disse para o filho aquele Pai-Padrão-FIFA (assim apelidou Ezio Flavio Bazzo àquele pai que foi lá tirar o filho do seu direito de se revoltar), vai ficar rico e contribuir para alguma coisa neste país.
O livro é bastante completo pois mostra esse contexto histórico em detalhes, antes de mostrar o homem que não se conformava com a situação do Brasil e com a injustiça. Vamos lá que a leitura está ótima!
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