sexta-feira, 30 de maio de 2014

Abaixo o trabalho e porque eu faço minhas tarefas domésticas

TRABALHO E CAPITAL SÃO AS DUAS FACES DA MESMA MOEDA
O trabalho tem cada vez mais a boa consciência do seu lado: o gosto pela alegria chama-se já `necessidade de descanso', e começa a corar de vergonha de si próprio. `Temos de fazer isto por causa da saúde', dizemos às pessoas que nos surpreendem num passeio pelo campo. Por este caminho, poderá chegar-se rapidamente ao ponto de não mais se ceder ao gosto pela vita contemplativa (ou seja, ao gosto de passear em companhia de pensamentos ou de amigos) sem desprezo por si próprio e sem má consciência.
Friedrich Nietzsche
«Ócio e ociosidade»
(em A Gaia Ciência), 1882.

Esse movimento não é novidade, portanto, não invento a roda, obviamente. Um movimento contra a necessidade e até mesmo o orgulho doentio pelo trabalho. Um orgulho que nos foi 'ensinado', que coloca as pessoas como escravas de um sistema que as oprime e as obriga a sustentar um absurdo.

Para saber mais: http://o-beco.planetaclix.pt/mctp.htm

Minha mãe trabalhou desde a infância, como muitas crianças trabalham hoje mesmo, na pecuária, nas grandes fazendas e pequenas comunidades do interior, pois é 'normal' e invisível. Ela carregou peso a vida inteira e foi empregada doméstica até a velhice e sofreu as consequências disso.
Por isso hoje, não contrato empregadas para trabalhos domésticos, pois, com regulamentação ou não, não acho justo que uma classe social ou sexo tenha que realizar uma tarefa que considero dever pessoal de todos. Ou seja, o que acontece na casa é pessoal, cada um tem que fazer suas tarefas e limpar o seu lixo. Há pessoas que precisam de ajuda mesmo e eu conheci gente que viveu cercado de enfermeiros e empregados, pois precisavam de verdade. Aí entendo que é necessário. E sei que muita gente precisa.

Fico triste ao constatar que somente agora a profissão mais importante e necessária que é o serviço doméstico, (que alguns chamam hoje de secretária do lar, mas não é essa a tarefa que essas pessoas fazem), foi regulamentada e sob muitas críticas. Sabemos o porquê dessa demora, ou você ainda não sabe?

Por que uma mulher branca e bem de condições financeiras precisa contratar uma mulher pobre ou de outra etnia para trabalhar em sua casa. Os trabalhos domésticos não deveriam ser tarefas de todos dentro de sua casa?
E por que essa obsessão idiota por limpeza?

Outra coisa bem diferente é:
Em todos os lugares do mundo é preciso um pessoal para servir ou preparar café, comida, organizar, limpar, etc. Nas maiores decisões da humanidade, cheia de homens importantes havia essas pessoas por trás, mas ninguém os reconheceu, nunca. Na esfera pública considero essencial o trabalho da limpeza. E ninguém deve se envergonhar. Eu mesma trabalhei nessas funções. E limpei casa dos outros, ajudando minha mãe.
Mas nas residências, acho que cada um e todos em uma família, salvo as crianças (a menos que de forma lúdica), devem realizar suas tarefas pessoais.

Uma sociedade justa e equilibrada jamais precisaria desse desnível de funções, onde é necessário que uma pessoa nunca tenha tempo dentro de sua própria casa, a ponto de ter que colocar um estranho, pagando uma miséria de salário*.
Essa desigualdade me incomoda, não sou dona das soluções, mas pergunto-me.
E jamais contratei empregadas, e nunca farei.

O que faço é ter tempo na vida, ter um estilo de vida de pouco consumo, sou pobre, não tenho carro (por ideologia), não vivo endividada, nem poderia viver assim.
A vida frugal e a escolha de uma família que colabora, me faz ter tempo de ter uma casa em ordem e não precisar de ninguém de fora para arrumar. Assim eu posso ter tempo até mesmo para lutar pela igualdade e pelo bem dos demais.

Mas você me pergunta: e o destino das empregadas domésticas no mundo?
Desejo que as mulheres tenham profissões que não lhe doam as costas e não lhes doam as mãos, não lhes afastem das suas famílias e principalmente, que ganhem mais dinheiro. Sobretudo, que tenham mais tempo.

Mais dinheiro, mais tempo e menos trabalho. Me entende?

*Hoje o salário dos empregados domésticos está mais valorizado porque estamos numa época de pleno emprego e faltam 'mão de obra', indicando que quase ninguém trabalha nessa profissão por achar o máximo. Ainda bem. Mas ainda tem gente que quer pagar pouco.

No fundo, sente-se agora […] que um tal trabalho é a melhor polícia, que retém cada indivíduo pelo freio e que sabe impedir com firmeza o desenvolvimento da razão, do desejo e do prazer da independência. Pois faz despender enorme quantidade de energia nervosa, e subtrai essa energia à reflexão, à meditação, ao sonho, à inquietação, ao amor e ao ódio.
Friedrich Nietzsche
«Os Apologistas do Trabalho» (em Aurora), 1881.
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