terça-feira, 13 de agosto de 2013

Faço terapia! (minha poesia concreta)

A cada vez que saio por aquela porta, o oceano do inconsciente vai ficando cada vez mais cristalino, as ondas cada vez mais agitadas, o sofrer entendido, as profundezas sendo reveladas.
O anjo, um velho sábio, uma amiga de outros séculos, uma faca no coração. O sangue escorrendo pelos olhos.
Quando comecei a entrar neste mundo, meu medo era de ser descoberta.
Como o que perfeitamente descreveu Florbela em seu poema, que é um verdadeiro arquétipo:

A minha tragédia
Florbela Espanca

Tenho ódio à luz e raiva à claridade
Do sol, alegre, quente, na subida.
Parece que minh'alma é perseguida
Por um carrasco cheio de maldade!

Ó minha vã, inútil mocidade,
Trazes-me embriagada, entontecida!...
Duns beijos que me deste noutra vida,
Trago em meus lábios roxos, a saudade!...

Eu não gosto do sol, eu tenho medo
Que me leiam nos olhos o segredo
De não amar ninguém, de ser assim!

Gosto da Noite imensa, triste, preta,
Como esta estranha e doida borboleta
Que eu sinto sempre a voltejar em mim!...
A Florbela me descreve despudoradamente, descreve o que é comum e universal, por ser ela, um ser sensível à sua própria dor.
Salva-me agora, as profundas ondas daquele oceano, onde sempre quis morrer.
Quando as lágrimas caem, levam pesos, presos e abafados, levam dores e as trazem à tona.
Quando caminhava à margem, não tinha ideia.
Caminho tão leve até o ponto de voar. A tristeza é tão profunda que a morte seria a solução. Mas não!

Quando entro neste lugar, vejo-me nos olhos de mim mesma, as palavras não tem mais o mesmo sentido, me proponho a não mais reagir como uma criança.
E quando tomo minha vida em mãos, percebo que ela é comum e finita. Não sou nada além de mim mesma. Os delírios sociais não cabem aqui dentro.
É por isso que é preciso caminhar à margem, para depois mergulhar sem medo.
Nas profundezas de minha mente, descubro que aquela mulher já está morta.
Ellen Augusta
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