sexta-feira, 22 de março de 2013

Mãe

A dor de sua partida é como uma faca rasgando o peito infinitamente. Não acredito em nenhum momento que não estás mais lá em casa, como sempre, presente na vida da gente. A mãe sempre estava presente, mesmo distante. Sei que a vida vai passando e não podemos deter o tempo, mas não acreditava que você um dia pudesse partir. Em algum lugar da minha mente infantil, você era sempre a mesma, nunca aparentava a idade e tinha uma saúde de ferro. Mas um dia você ficou doente e partiu.
Peço perdão pelas vezes que te fiz sofrer e sei que foram muitas. Mas era ansiosa, sem tratamento, tudo era questão do medo da vida. Hoje percebo que foi tudo em vão. Não é preciso ter medo, mas temos.
O que mais foi triste foi ver você sofrendo, por isso, pedi aos médicos que não fizessem você sofrer de modo desnecessário. Eles foram muito atenciosos, os enfermeiros e técnicos também, mesmo sendo SUS, tivemos um bom atendimento. Digo tivemos, pois eu também estava doente, minha alma estava sentindo toda sua dor, ou parte dela, pois sei que você sofreu muito mais.

Na terça feira cheguei na hora exata. Você sabe do que estou falando. Mas lamento o tempo que estive longe. Eu tinha levado aparatos para lhe fazer as unhas e cuidar um pouco mais de ti, mas não deu tempo.
No funeral foi lindo, consegui organizar tudo, com ajuda de muitas pessoas, pois você é tão querida e possui muitos amigos. Quem me dera um dia ter tanta gente assim me apoiando. Levei flores do seu jardim, as mesmas flores que você sempre me levava quando vinha aqui em casa. Estas flores sempre enfeitavam minha casa, sempre saía de sua casa com a sacola cheia de vida, de flores e frutas.

A cerimônia foi feita com o padre que é nosso primo e com as pessoas da igreja dos Mormons que te ajudaram muitas vezes, até mesmo pagando os custos de exames e apoiando você neste momento. Tenho muito a agradecer a eles. Foi um funeral diferente, com duas religiões, mas entendo que você assim quis. E que a linguagem espiritual tem muitas faces, sou assim como você, flexível para entender as diferentes linguagens espirituais e mesmo a ausência de crença. Coloquei em suas mãos geladas, uma cartinha que achei entre seus documentos, escrevi ela em 1998 e lá estava exatamente o que poderia te dizer hoje. Lembro que você guardou com tanto carinho junto com seus documentos mais importantes.
Levarei flores coloridas, velas perfumadas e farei o melhor que puder e conseguir para fazer com que o sofrimento que você passou aqui na Terra seja recompensado.

Escrevi esta mensagem virtual, pois acredito que a Internet seja uma mente coletiva, e que esta mensagem estará de certa forma gravada, para que você possa receber, mesmo que seja diretamente de meu coração.
A mãe sempre me visitava, trazendo coisas da sua horta. E voltava com a mesma sacola cheia de presentes. Tudo que eu comprava, pensava em dar para minha mãe também. Tomar chimarrão, ver o Chaves e o Chapolin a tarde, ir na horta pegar limão. A saudade é imensa ao pensar que nunca mais teremos estes momentos, que antes eram cotidianos. Gostei muito do tempo que moramos juntas e das vezes que fui te visitar.
Ellen Augusta
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