quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A poesia de um livro que merece ser lido todos os dias

Peguei ao acaso um livro na estante e abri ao acaso. A frase que li dizia: "Só se devem ler os livros que merecem ser lidos todos os dias"

Este livro chama-se Elogio do Crápula e é uma obra antiga do escritor Ezio Flavio Bazzo, de 1977.
É curiosamente um livro de poemas, mas com muita prosa de boa qualidade.
O livro foi escrito  na época em que seu gato morreu.
Um livro para levantar o ânimo, se é que este caiu, ou para ser degustado como algo gostoso de se ler.
Estava aqui. Veio com as compras, acho que ganhei do escritor, ou comprei pelo seu site.
Abaixo transcrevo um poema, mas o livro deve ser lido inteiro, pois cada página é uma surpresa e um conteúdo novo.


"a ironia pressupõe uma formação intelectual inteiramente específica, muito rara em cada geração" Soeren Kierkegaard

a noite desfalece em cultivo aos falecidos
na harmonia das estrêlas que mussitam
um mantra inspirado no peyote mexicano!
espreito pela janela aberta
o ar viciado que desemboca
justamente na boca vazia
do Zé da esquina
que reza para viver até a próxima inflação...
hoje é um chiado de vozes
amanhã será um chiado de consciência
(graças a transmutação universal)
pensei:
estou competindo em vida
com samambaias de charco
e tenho remorsos pela morte brusca
de meu gato...
seus dois olhos azuis
a Catia que projetava afeto
e tinha dois olhos pretos
como jabuticabas...
uma nuvem imbecil cobriu-lhe a vida!
corri os olhos pelo 'despertar dos mágicos'
porque não pude ir a Bogotá
no festival bruxeiro...
vi aquilo que qualquer um vê:
o passo delicado do Senhor Mefisto
a barriga curiosa de Fausto
entrei pelado na prisão de Elena
porque sabia-a desejosa de santidade!
ora!ora!
como poderia eu contemporizar
um velhote como Goethe...
secular comedor de carne?
não
a vida não tem mais delírios a inventar
nada mais justifica as ilusões.
adeus as ilusões!
mulheres
viagens
terapias cósmicas
caminhadas saáricas...
tudo a-energético
aceno e monista.
os risos e as tensões não são coisas da face
mas sim da mente
é necessário saber quando
onde
e para quem!

londrina 1976

foto:fac.unb.br
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